É interessante pensarmos que, hoje e de uma forma geral, o intelectual ou o artista se tenta apresentar à sociedade, como um peão neutro, impoluto e descomprometido. Muito raramente abraça causas ou as defende resolutamente, ao contrário do que era normal nos anos 40/70 do século passado. Numa palavra: não gosta de sujar as mãos, para manter a sua popularidade e seu share pleno, à direita e à esquerda. E, muitas vezes, se toma partido, tenta jogar naquele lado que lhe parece ser o vencedor antecipado ou, pelo menos, o mais forte. O intelectual de hoje, se exceptuarmos raríssimas excepções, é pragmático e tenta tratar da sua "vidinha", deixando de lado as causas e, muitas vezes, os princípios. Lembrei-me disto, ao ler estas palavras de Auden:
"No nosso tempo é normal o caso de um homem, seja ele romancista ou poeta, decidir se se entrega à sua arte, apenas, ou se se assume politicamente engagé. Neste aspecto, a sua consciência encontra-se, genuinamente, dividida: uma voz diz-lhe, e correctamente, que a política é um negócio sujo e se ele se mistura nela, terá muitas vezes que comprometer a sua integridade artística; outra voz diz-lhe, de forma igualmente correcta, que as causas da justiça social são mais importantes do que a causa da arte. ..."
W. H. Auden, in Secondary Worlds (pg. 31), Faber and Faber, 1968.
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