Há assuntos que, por serem delicados, são normalmente evitados por escritores, jornalistas e comentadores. Ou, então, as abordagens que se fazem são parciais ou demasiado coladas a posições politicamente correctas da verdade "oficial". A isenção é rara nestes casos.
O texto que George Steiner (1929) dedica a apreciar o livro de memórias "Spandau - The Secret Diaries", de Albert Speer (1905-1981), incluído no volume "George Steiner em The New Yorker" (Gradiva, 2010), parece-me exemplar.
Albert Speer foi, como se sabe, arquitecto-principal e Ministro do Armamento do III Reich. Foi também o último e, durante anos, o único prisioneiro da prisão-fortaleza de Spandau (Berlim), até 1966.
São as apreciações, de Speer, sobre os carcereiros rotativos mensais (ingleses, franceses, americanos e russos) que passo a referir, através das palavras de G. Steiner. Não é a parte mais importante da abordagem crítica, mas é talvez a mais curiosa:
"...Os ingleses são escrupulosos. Os franceses exibem uma certa bazófia fácil. Na inocência e na espontaniedade americana há uma ponta frequente de brutalidade. Durante cada um dos «meses russos», o regime alimentar degrada-se. No entanto, o pessoal soviético é sôfrego por cultura. Enquanto os seus colegas ocidentais folheiam policiais ou passam pelas brasas em cima das palavras cruzadas, na prisão de Spandau os russos estudam química, física e matemática, ou lêem Dickens, Jack London e Tolstoi. ...(pg. 101).
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