Por informação de Inocêncio (I, 159), fez ontem anos que faleceu (16 de Novembro de 1817), na maior pobreza, octogenário e quase cego, este poeta, hoje praticamente desconhecido, e que dava pelo nome de António Joaquim de Carvalho. Morreu na Rua do Crucifixo, onde morava, era viúvo e fora cabeleireiro de profissão. Como fora Domingos Reis Quita, mais conhecido, que pertencia à Arcádia Lusitana e era amigo de Garção. Pelos vistos o ritmo das tesouras cruzava-se, na altura, com os ritmos poéticos... António Joaquim de Carvalho, ainda segundo Inocêncio, tem obra vasta. Que tinha o verbo fácil, nota-se. Vai um soneto brejeiro, de amostra:
Que usem as Damas de compradas cores
Por fingirem que são alvas e rosadas;
Que afectem as cinturas delicadas
Com barbado espartilho autor das dores.
Que as frentes ornem de fragantes flores,
Porque as faz mais vistosas, e engraçadas:
Que assemelhem co'as grenhas emprestadas
Seu gentil rosto aos monos brincadores:
Tudo tolero às Damas indiscretas,
Que a afectação é sempre o seu regalo,
Por tecerem de Amor ervadas setas.
Em ridículas modas eu não falo;
Mas engrossarem nádegas e tetas,
O que isso explica, por modéstia calo.
P. S.: para JAD, em troca do provérbio, que eu não conhecia.
O último terceto é muito actual.
ResponderEliminarMuito de acordo, MR.
ResponderEliminarE eu desconhecia, em absoluto, este soneto. Obrigado
ResponderEliminarEu até desconhecia este poeta...
ResponderEliminarJad e Miss Tolstoi:
ResponderEliminarse eu não me tivesse interessado pela poesia do Séc. XVIII(-XIX)português, a ver se havia algum "trigo", no meio de tanto "joio",provavelmente também desconheceria este António Joaquim de Carvalho.