O livro Poesias, do Abade de Jazente (1719-1789), como se poderá ver pelas imagens, pertenceu a Alberto Osório de Castro (1868-1946) pela marca de posse manuscrita no frontispício, e pelo ex-libris na segunda página. Este poeta era irmão de Ana de Castro Osório (1872-1935), e amigo de Camilo Pessanha. Foi juíz na Índia, Angola e Timor. Teve vida política activa, tendo sido Ministro da Justiça no breve consulado de Sidónio Pais.
Mas era de Paulino António Cabral, Abade de Jazente, sobretudo que eu queria falar, hoje, que o andei a reler, em circunstância, por esta pequena edição rollandiana de 1837, e que A. Osório de Castro terá comprado, em Lisboa, a 29 de Abril de 1924.
De entre a abstrusa poesia portuguesa do séc. XVIII, Jazente é uma boa excepção e um dos meus poetas predilectos. Pelo seu tom despido de artifício, suas paixões (apesar de padre), pelo realismo da vida campesina que retrata, onde cabem perdizes, um catapereiro (pereira brava) ou o afecto que dedicava aos cães ( Tejo e Diamante) que o acompanhavam. Pelo sol e a chuva que entram nos seus versos. Ou até pelas insónias que deixa impressas num soneto:
O galo já três vezes tem cantado,
Mugido o Boi, tossido a Ovelha, e a Aurora
Já lá vem, com lágrimas que chora,
Regando a relva mole ao verde prado.
Já detrás do Marão o Sol dourado
A frente principia a lançar fora:
Enfim é manhã clara, e inda até'gora
O sono aos olhos meus não tem chegado.
Ele às vezes quer vir, e a noite inteira
Me rodeia a cabana, e espreme lento
O suco sobre mim da dormideira.
Mas se entra nela algum feliz momento,
Que se me encontra à cabeceira
Logo dela retira o meu tormento.
Nota: procedi a pontuais actualizações ortográficas.
Nem o Sol deve estar dourado para lá do Marão, nem por aqui a manhã está clara. :)
ResponderEliminarBom dia!
Bom dia!, Miss Tolstoi.
ResponderEliminarExtraordinário ex-libris...
ResponderEliminarA propósito de noite e galos a cantar. No largo da Igreja do Santo Condestável, em Campo de Ourique, existe um pássaro que trina a noite toda, e nem a chuva e o frio o demovem. Já tenho pensado que espécie de pássaro será aquele e ainda não consegui chegar a uma conclusão. Um canário fugido? É que o trinar é um encanto...
O mais matutino que conheço, é um melro outrabandista que começa por volta das 5 da manhã. Mas parece que as cotovias também são madrugadoras. Os canários costumam ser mais tardios a cantar, mas (quem sabe?)poderá ser algum que goste de "desmanchar a regra (A. de. A. Matos)"...:-)
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