quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Releituras


"Não tenho presente quem um dia escreveu (o conceito é muito conhecido) que a partir de uma certa idade já pouco de novo se lê, prefere reler-se. Esse gosto da releitura tem, porém, seus riscos: livros há que, na juventude, nos parecem obras-primas e somente mais tarde são restituíveis às devidas proporções. A experiência, a cultura adquirida, os sucessivos estados de espírito que aos poucos nos vão fazendo, muitas vezes roubam a uma obra esse sabor inicial de «descoberta» que haveria de marcar-nos muito tempo... até à tal releitura que pode ser decepcionante. Em compensação, há livros que nos impressionaram menos na juventude, embora os apreciássemos e até lhes aproveitássemos ensinamentos e que - talvez por isso mesmo - relidos muito mais tarde avultam aos nossos olhos mais exigentes, adquirem o valor definitivo que juízos mais serenos e uma observação mais rigorosa acabam por dar-lhes. ..."

Luís Forjaz Trigueiros, in O Prélio Solitário, 1992, pg. 115.

2 comentários:

  1. Fartei-me de ler "obras-primas" que hoje... bah.
    Três casos, que me vêm à memória, que só apreciei já adulta: Alice no País das Maravilhas, O Principezinho e os livros de Irene Lisboa. Talvez aqui volte, se me lembrar de outros casos - porque há mais.

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  2. No meu caso, Graham Greene foi paradigmático. Mas já desisti (depois de várias tentativas) do Proust. E dos neo-realistas portugueses (de que gostei tanto), só escapou 1 ou 2 livros do Redol, com o avançar da idade...

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