Muitas vezes, entretenho-me a imaginar isto: abandono-me a sonhar a ressurreição de alguns dos nossos grandes homens do passado. E ofereço-me para lhes servir de guia; passeio com eles por Paris; ouço-os a fazerem-me, de imediato, imensas perguntas, a ficarem surpreendidos; e ressinto-me pelo modo ingénuo que me obriga também a impressionar-me, todos os dias, devido às diferenças que o tempo foi criando entre a minha vida de ontem e a de hoje. Mas também me embaraço, neste meu papel de cicerone. Basta pensar em tudo aquilo que seria preciso saber para poder explicar a Descartes ou a Napoleão, ressuscitados neste nosso sistema actual de existência, para lhes fazer compreender como chegámos até aqui, conseguindo viver nas condições tão estranhas, num meio tão assustador e hostil. Este meu embaraço é a própria medida da mudança entretanto acontecida.
Paul Valéry, in Variété III (pgs. 254/5).
Bem interessante! Boa tarde!
ResponderEliminarSempre perspicaz e sugestivo, o Valéry..:-)
EliminarBoa tarde!