quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Sobre Poesia, em geral


A propósito de uma recensão a um livro de poemas de Paul de Roux (1937), o também poeta Patrick McGuiness (1968) refere (TLS nº 5834): "Um dos clichés da moderna poesia é que o seu trabalho se ocupa em transformar o ordinário em extraordinário, tentando descobrir um escondido encantamento na vida quotidiana. A consequência disto é que muitos poemas sobredimensionam as coisas banais que somente o poeta pode achar interessantes."
Do meu ponto de vista, esta perspectiva (ou banalidade) estendeu-se também a muitos prosadores e, até, a alguns ensaístas. Basta lembrar o caminho de Eduardo Prado Coelho que, de uma enviesada leitura de Barthes, acabou a tecer, talvez por preguiça mental, considerandos inefáveis ou ingénuos sobre lingerie feminina e outras minudências. Ou a evolução que alguma corrente da poesia portuguesa, mais boçal e canhestra, teve, após os Poemas Quotidianos (1957-1960), de António Reis (1927-1991), pioneiro autêntico de uma temática, que foi sendo desvirtuada até atingir a indigência da grande maioria dos versinhos de Adília Lopes e quejandos. 
Não se podem meter no mesmo saco, evidentemente, os versos pobretes das desgarradas, mesmo que marotos, com a verdadeira poesia. De um Char, de um Echevarría, de um Herberto Helder. Há que ter respeito pela diferença de grau. De qualidade e de altura.

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