quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Philippe Jaccottet (Suíça, 1925)


Fica tranquilo, que ela há-de chegar! Recriminas-te,
ardes por pouco! Mas a palavra que ficará
no fim do poema, ainda mais do que a primeira será
mais íntima da morte, e não se detém pelo caminho.

Não penses que ela vai adormecer sob os ramos
ou ganhar fôlego enquanto tu escreves.
Mesmo quando tu bebes para estancar a sede
pior, a doce boca nos seus gritos

doces, mesmo quando a apertas com força, o nó
dos quatro braços, para que fiquem seguros
na tórrida obscuridade dos vossos cabelos,

ela há-de vir, Deus sabe, por que caminhos, até vós
ambos, de muito longe ou já próxima, mas acalma-te
que ela virá: de uma a outra sílaba, irás envelhecendo.


Nota pessoal: soneto estranho, o deste poeta suíço (de língua francesa) que eu desconhecia, e em que a morte e a criação se digladiam, como Jacob e o Anjo, de que nos fala a Bíblia.
Aqui fica, na versão portuguesa de que fui capaz...

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