quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Divagações 77


Se nos anos 30, as opções, para quem quisesse agir politicamente, tinham uma extrema bipolaridade (fascismo/comunismo), a terceira via dos anos 80 veio transtornar tudo e criar um indeterminismo de águas mornas, um eterno álibi, uma absolvição descansada e prometida de antemão.
Mas eis que, recentemente, essa bipolaridade, com novos contornos, se tem vindo a reacender, sobretudo em espíritos excessivamente juvenis onde, muitas vezes, a cegueira predomina. Estes espíritos leves e ligeiros ganham, assim, um peso irracional no fanatismo do futebol, nas fátimas de joelhos arrastados pelo chão, nos jihadismos animalescos, nos processos de praça pública que os mídia atiçam e provocam. Em suma, o essencial passa ao lado... A ponderação e a dúvida temporal deixam de existir ou são consideradas criminosas. Num justicialismo aberrante, todos acham que devem tomar posição. E de imediato. Atirar a primeira pedra parece ser um acto de fé, uma obrigação cívica, para estes pequeninos juízes de bancada, ululantes.
Não será, por isso, descabido de todo, citar Italo Calvino (1923-1985), que escreveu:
"Para mim, as ideias tiveram sempre olhos, um nariz, uma boca, braços e pernas. A minha história política é, à partida, uma história de presenças humanas."

2 comentários:

  1. Absolutamente de acordo com a citação de Calvino. Talo Calvino. :)

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    1. É este humanismo solidário e esclarecido que mais falta faz, nos tempos que correm...

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