quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

As várias américas


A recente vaga de manifestações de protesto, nos Estados Unidos, pela morte de um preto desarmado, transmitem a fúria da comunidade negra, acumulada por uma série de homicídios recentes perpetrados pela polícia ianque.
Esse facto fez-me lembrar as imagens de um blogue americano, que vi há pouco tempo, e que se dedica à venda de postais e fotografias de índole diversa. Surpreendeu-me, no meio de uma parafernália muito variada, encontrar tantas fotos e postais, com linchamentos de negros, datando dos finais do século XIX e inícios do XX. A preços que oscilavam entre 300 e 400 dólares. A quem poderá interessar mercadoria tão abjecta?
(Para não incomodar almas sensíveis, que venham visitar o Arpose, decidi dar apenas 2 imagens, das que apareciam à venda.) Porque também não convém esquecer que a sociedade americana foi fundada na violência, no extermínio sistemático dos nativos e, muitas vezes, à lei da bala. E isto, creio, que não desaparece dos genes, assim tão depressa.

9 comentários:

  1. Tenho que, frontalmente, mostrar o meu protesto, não pelas imagens ou pela linguagem, mas pela ideia preconceituosa sobre a sociedade americana. Extermínio sistemático dos nativos parece-me extensível a muitas "genéticas" no mundo. E, se a coisa tem a ver com genes, basta procurar de onde eram originárias as classes maioritárias da América que hoje temos. Da Europa, não era?

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  2. Releio o meu comentário e parece-me um pouco rude demais. Desculpe, acredite que queria ser "light"!

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    1. A discordância é sempre mais estimulante que o acordo. E as moedas têm sempre duas faces. Como os E. U. A. podem ser vistos de várias perspectivas.
      Dito isto, tenho por certo que o extermínio dos Índios, na América do Norte, só encontra paralelo no genocídio dos nativos australianos ou no México, pelos espanhóis (vide: Bartolomé de las Casas). Houve colonizações, pelo mundo, bem mais "soft"...
      Ainda hoje, a competição sacralizada na América me parece, muitas vezes, uma selvajaria desenfreada que traz ao de cima o pior dos seres humanos.
      Finalmente: ao lançar este poste, eu tinha consciência que não iria aquietar as almas.
      Cordialmente,
      APS

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  3. Estou de acordo com o que Artur Costa diz. E mais uma acha para a fogueira: os europeus que foram para a América, até meados do século XX, não era a 'fina flor' da Europa... Já tinha sido escorraçados dos seus países (pelas mais variadas razões, por exemplo, pela fome ou pela religião... E outros eram assassinos, deportados, não eram?
    O mesmo se passa na Austrália que, segundo me têm dito, é uma sociedade bem racista.

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  4. Os postais são horríveis. Há sempre colecionadores de tudo. Deste lado do Atlêntico, tb há colecionadores nazis que imagino devem ter fotos 'lindas' nos seus acervos.
    Bom dia!

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  5. Atlêntico = Atlântico.
    E se calhar há mais gralhas... :)

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    1. Pois, sobre isso, penso que estamos de acordo: a "fina flor" ficava em casa, não ia para as colónias. Quando muito, tinha negócios lá, através de seus representantes.
      E a Austrália foi, para a Inglaterra, o que Timor foi para Portugal: uma colónia de degredo. No entanto, e aqui está a diferença: em Timor, que eu saiba, nunca "caçaram" indígenas...

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  6. Imagino que o APS não traga para aqui estes temas à espera de concordância e aplausos, mas sempre lhe digo que tenho um visão das coisas muito semelhante à sua.
    Não sei se, no caso dos States, a discriminação e a violência contra as minorias, sobretudo os negros e os hispânicos, lhes estão nos genes, mas estão certamente na matriz cultural dominante, no chamado WASP. A mim irrita-me sobretudo que eles se considerem os melhores do mundo e se armem em polícias dos outros povos, defensores da moral e da democracia, quando eles próprios tantas vezes a atropelam...
    Já agora, estas horríveis fotografias são já do séc. XX bem entrado!
    Boa noite!

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    1. Na verdade, sempre achei desmesurada, ou talvez hipócrita, essa figura de campeão da ética e modelo de virtudes aplicada aos E. U. A.. Por alguma razão, os Presidentes norte-americanos terminam, quase sempre, os seus discursos com um: "God bless America!"..:-)
      Mas ressalvei, através do título do poste, que não generalizo a minha opinião - há outras américas.

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