A frase de Protágoras, que o homem é a medida das coisas, é uma expressão característica, essencialmente mediterrânica.
Que quer ele dizer? O que é que há para medir?
Não será substituir o objecto que medimos por um acto humano cuja simples repetição esgota esse mesmo objecto? Dizer que o homem é a medida das coisas, é pois opor à diversidade do mundo o conjunto ou grupo de poderes humanos; é opor também à diversidade dos nossos instantes, à mobilidade das nossas impressões, e mesmo à particularidade da nossa individualidade, da nossa pessoa singular e, de algum modo, especializada, acantonada que está numa vida local e fragmentária, um EU que a resume, a domina, a contém, como a lei contém o caso particular, como o sentimento da nossa força contém todos os actos que nos são possíveis.
Sentimos este eu universal, que não é a nossa pessoa acidental, determinada pela coincidência de uma quantidade infinita de condições, factores e acasos, porque (e aqui entre nós) há que pensar na enorme quantidade de coisas que nos couberam por acaso!... Mas sentimos, tenho que o dizer, quando nós merecemos senti-lo, que este EU universal que não tem nome, nem história, e através do qual a nossa vida recebida e orientada, ou sofrida por nós não é senão uma das inumeráveis vidas em que este eu idêntico se consubstanciou...
Paul Valéry, in Variété III (pg. 242).
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