segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Bibliofilia 75


Há dias, um estimado Amigo mostrou-me, com algum contentamento, um livro, de magnificente aspecto, que tinha pertencido à biblioteca do nosso breve rei D. Manuel II, e que ele adquirira, há pouco tempo, num alfarrabista nosso conhecido. O volume tinha o famoso ex-libris régio ("Depois de Vós, Nós") e duas curtas notas manuscritas, a lápis, feitas pelo nosso último monarca. A obra fora cara, porque incompleta (apenas um dos dois volumes), mas estava impecável de conservação e era muito bonita, recheada de ilustrações cuidadas, francesa e sobre arte europeia. Percebi, imediatamente, o impulso da compra, que também me pareceu acertada e oportuna. Porque, a mim, já me aconteceram situações idênticas. Passo a contar.
Em finais dos 70, anos 80, e durante os primeiros anos da década de 90 do século passado, havia uma figura singular assídua nos leilões de livros. Magro, alto, delicado, muito claro de pele, com uma expressão ascética no seu todo, mas que se emocionava, um pouco, sempre que licitava um lote. Era, em absoluto, uma pessoa com quem, desde logo, simpatizei, muito embora nunca tivesse falado com ele. Vi-o comprar, principalmente, obras relacionadas com a Religião. Vim a saber, muito mais tarde, que era o Padre (Cónego) Isaías da Rosa Pereira (1919-1998?). Tinha nascido nos Açores (Horta), pertencia ao Tribunal Patriarcal, era docente de História do Critianismo e especialista no tema da Inquisição.
Há cerca de um ano, encontrei no meu alfarrabista de referência um opúsculo que lhe tinha pertencido, e que vai na imagem. E, embora eu nada saiba de Direito, muito menos Eclesiástico, não resisti a comprá-lo porque tinha a marca de posse, manuscrita (como se pode ver) a lápis, de Isaías R. Pereira, com a data de aquisição: 7. 10. 1981. Tenho quase a certeza que ele terá comprado o folheto, desencadernado, num leilão do meu conhecido José Manuel Rodrigues, ali na Casa da Imprensa, à Rua da Horta Seca. Eu, decerto, dei por ele mais dinheiro (6,00 euros), passados estes anos, mas embora o assunto seja um pouco árido, para o meu gosto, já li a obrinha (28 páginas), de 1834, e dei por bem empregue a compra que fiz por simpatia...

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