Não há dúvida que M. escrevia correctamente e a leitura das suas obras até deslizava bem, nas horas que fossem despreocupadas e livres, era agradável, mas faltava-lhe nervo, alma e sangue. Era uma água chilra, como um chá frio, ou a dobrada, de que falava o Pessoa. E nunca tomava partido - era uma alma muito cândida. Abençoava a todos, a todos perdoava e procurava compreender, mas M. era feliz, à tona das suas águas serenas e sem vento que as agitasse.
Um dia, perguntou-me, de modo metafísico e crispado: "- Mas quem é que decide quem vai para o Inferno, ou vai para o Paraíso? Haverá um super-deus, que ajuíza?" E eu, francamente, não lhe soube responder, até porque estava a pensar se era melhor apanhar o eléctrico, ou ir de metro, quando me despedisse, para regressar a casa.
Mas hoje, se fosse eu que decidisse, mandava M. para o Purgatório.
Boa tarde,
ResponderEliminarEste apontamento traz -me à memória uma frase dum livro da Agustina, " ... mais que tolo, um verdadeiro nabo, este homem não te merece Vanessa." ACV