Mon Corps
LIV
O corpo é uma massa ou espaço, penetrado de sensibilidade tal como uma pedra é circulada por veios de ferro ou como uma esponja é penetrada pela água: penetrada pela vontade de uma forma mais subtil. Sensibilidade e vontade deixando nas redes por onde existem, partes insensíveis e inertes, de grandeza limitada pela subtileza das suas ramificações.
Há regiões onde o querer não tem existência e que são puramente locais. A grandeza destas zonas é notável em relação ao nosso conhecimento e à possessão que temos de nós mesmos.
Analogia curiosa. O pensamento compreende assim reservas em que ele próprio não consegue penetrar. Há distinções em que ele não é bem sucedido em aprofundar, tempos em que não consegue repartir-se. Ele penetra até certa profundidade, mas só até certo ponto.
Paul Valéry, in Tel Quel II (pgs. 198/9).
Nota pessoal: este pequeno capítulo do livro de Valéry, que tenho vindo a ler, traduzir e partilhar, aqui, foi talvez, pela sua densidade e intensidade, aquele que me criou mais hesitações e dificuldades, ao vertê-lo para português. A consulta do texto original parece-me, pois, aconselhável a quem ele interesse, e saiba francês.
Não tem de quê, fi-lo com gosto, embora com algumas dificuldades e hesitações, pelo caminho.
ResponderEliminarDesde que saiba francês, a obra tem sido reeditada, até é possível que haja na FNAC, mas não sei. A minha edição é de 1971 (colecção Idées), da Gallimard.
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