Tome-se por inteiro, e antecipadamente, que não se vai chegar a uma conclusão definitiva e rigorosa sobre as origens, razões de uso e significado exacto da expressão portuguesa: fazer fosquinhas. Muito embora Alexandre de Carvalho Costa (Gente de Portugal/ Sua linguagem - Seus costumes, Portalegre, 1982) lhe atribua equivalência a: fingir afectos que não se sentem.
Ao que parece, os Getas e Citas, antigos povos germânicos, atribuiam aos cavalos um poder adivinhatório através da interpretação dos seus relinchos, sobretudo aos cavalos brancos, que eram consagrados ao Sol. Daqui, para Portugal, vão uns séculos, mas há notícia de uns "cavalinhos fuscos" que, obrigatoriamente, integravam a procissão lisboeta do Corpo de Deus. Por sua vez, S. Jorge, iconograficamente, aparece quase sempre montado num cavalo branco. Ou seja, de novo, uma ligação ao sagrado.
Já no "Auto das Fadas", Gil Vicente refere: "Cavalgo no meu cabrão - e vou a val de cavalinhos..." E, também, Francisco Manuel de Melo os refere (cavalos fuscos) na "Feira de Anexins". Em 1517, no Regimento da Câmara de Coimbra se regista: "...os cordoeiros, albardeiros, odreiros e tintureiros levam quatro cavalinhos fuscos bem feitos e bem pintados...". E Cruz e Silva, no Hissope, nos finais do século XVIII, escreve:
E por dar mais prazer aos convidados,
De cavalinhos fuscos, depois dele
Na vaga sala, com soberba pompa
O galante espectáculo prepara.
Ou seja, em jeito de conclusão, fazer fosquinhas seria, talvez, "imitar o cavalo, nos seus movimentos, caracoleios e relinchos". E fiquemo-nos por aqui, hoje.
Achei grac,a. Um abrac,o.
ResponderEliminarBom esforço com o cê cedilhado! - lembrei-me de Novembro, na Alemanha...
ResponderEliminarBoa estadia. Abraços amigos!