No seu "Portugal Contemporâneo", Oliveira Martins (1845-1894), no capítulo que dedica ao movimento e sublevação da Maria da Fonte, tece algumas considerações sobre as características das mulheres minhotas que, embora pecando pela generalização excessiva, não deixam de ter algum fundamento. Demos, então, a palavra ao historiador novecentista:
"...No Minho, como em todas as regiões de stirpe celtica, a mulher governa a casa e o marido; excede o homem em audacia, em manha, em força; ara o campo e jornadêa com a carrada de milho á frente dos boisinhos louros. Requestada em moça nos arrayaes e romarias pelos rapazes que a namoram, conversando-a com as suas caras paradas, basta vêr um d'esses grupos para descobrir onde está a acção e a vida: se no olhar alegre, quasi ironico da moça garrida, luzente de ouro, se na phisionomia molle do rapaz, abordoado ao cajado, contemplativo, submisso, como diante d'um idolo. A vida de pequenos proprietarios põe na família uma avidez quasi avarenta e na educação dos filhos instinctos de governo. Quando se casam, as moças conhecem o valor do dote que levam, e os casamentos são negocios que ellas em pessoa debatem e combinam.
Não é uma esposa, quasi uma serva, que entra no poder do marido, á moda semita que se infiltrou nos costumes do sul do reino: é uma companheira e associada em que o espirito pratico domina sobre a molleza constitucional do homem desprovido de uma intelligencia viva. A mulher parece homem; e nos attritos da dura vida de pequenos proprietarios, quasi mendigos se as colheitas escasseiam, cercados de numerosos filhos, apagam-se as lembranças nebulosamente doiradas da luz dos amores da mocidade, e fica do idolo antigo um rudo trabalhador musculoso, com a pelle tostada pelos soes e geadas, os pés e as mãos coriaceas das ceifas e do andar descalça ou em soccos nos caminhos pedregosos, ou sobre a bouça de urzes espinhosas. Não se lhe fale então em cousas mais ou menos poeticas: já nem percebe as cantigas da mocidade no desfolhar dos milhos! ..."
J. P. Oliveira Martins, in Portugal Contemporaneo (pgs. 186/7), Parceria Antonio M. Pereira (1925).
Só faltou dizer que tinham bigodes... lá diz o povo.... (mas eu não posso dizer)
ResponderEliminarComo Ana Plácido..:-), embora nascida no Porto.
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