quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cidades imaginadas


Em determinados meios, Veneza não seria a mesma, sem Mann ou Visconti. Nem Tanger, sem tudo aquilo que William Burroughs lhe acrescentou. Alexandria não projectaria o fascínio mítico, que exerce, sem as obras de Cavafy e Durrell. E Dublim foi outra, depois de Joyce. À nossa medida talvez não o sintamos tanto, mas Lisboa, para alguns estrangeiros, tem a aura imaginada que Saramago lhe deu, através de Pessoa, em "O Ano da Morte de Ricardo Reis". Tenho a certeza que há turistas que visitam a Capital portuguesa, num itinerário espiritual que o livro lhes transmitiu. E, decerto, não desdenham ser fotografados, na cadeira vazia que Lagoa Henriques lhes deixou, junto à "Brasileira", e em boa companhia. Mas os portugueses podem ainda percorrer Lisboa pelos versos de Cesário, ou através da prosa de Eça.
Quem não vê isto, infelizmente, são os nossos burocratas cinzentos e agentes da Cultura, que servem apenas para a estrangular, numa pobreza de espírito sem futuro.

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