sábado, 30 de janeiro de 2016

Da leitura (9)


Esta fase da minha vida, no que diz respeito a leituras, tem-se caracterizado por um grande fastio em relação à ficção. Para ser exacto, no entanto, terei de dizer que encetei, há dias, com agrado a novela O Cisne Negro (Estúdios Cor, 1957), de Thomas Mann. Não sei se o interesse se irá manter até ao fim, veremos.
Alberto Manguel, em Uma História da Curiosidade (Tinta da China, 2015), usa, para itinerário dos seus discursos capitulares, passagens de A Divina Comédia, de Dante. O livro parece-me irregular: capítulos interessantes alternam com outros menos agradáveis, talvez demasiado prosaicos, eruditos e com abundantes citações. Num dos capítulos, de que gostei particularmente, o escritor argentino fala de um professor (Lerner) que teve um efeito benéfico e influência grande, no aconselhamento de obras e autores que ainda hoje o fascinam. Vou transcrever uma pequena parte desse capítulo:
"...Quando somos adolescentes, somos únicos; quando crescemos, percebemos que o ser singular é, na verdade, um mosaico composto por outros seres que, em maior ou menor medida, nos definem. Reconhecer essas identidades espelhadas ou aprendidas é uma das consolações da velhice: saber que certas pessoas há muito transformadas em pó continuam a viver em nós, tal como nós viveremos em alguém cuja existência talvez nem conheçamos. Compreendo agora com 66 anos, que Lerner é um desses seres imortais. ..." (pg. 61)

Ao longo da minha vida, tive também pessoas que me aconselharam livros e leituras. Recordo duas, especialmente. A primeira foi um professor de Inglês, de nome Fabião, no meu 4º ano de Liceu, que me abriu caminho para Somerset Maugham, aconselhando-me a ler The Moon and Sixpence. Vim a encontrá-lo mais tarde, na Faculdade de Letras de Lisboa, onde era leitor de neerlandês. O segundo conselheiro foi Eugénio de Andrade que me recomendou João Guimarães Rosa, na altura da minha ida para a tropa. E, porque falava muito de Juan Ramón Jiménez, acabei por vir a ler, também, o poeta do Moguer, com grande entusiasmo. São três autores recomendados que ainda hoje me dão prazer de leitura.


2 comentários:

  1. Lembro-me bem do Fabião, apesar de nunca ter sido meu professor.
    Lembro-me bem que fui parar ao Somerset Maugham porque um tio meu andava a ler Servidão humana. Não seria o melhor livro para me iniciar neste autor, mas rapidamente comecei a ler uns contos dele.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O Fabião era um professor divertido, com um humor algo corrosivo, mas um bom professor de inglês.
      O romance que refere, li-o bastante mais tarde, mas de "Um gosto e três vinténs" gostei imenso, até porque se dizia ter sido inspirado na vida de Gauguin.
      Bom dia!

      Eliminar