sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Palavras do dia (20)


Esta campanha para as eleições presidenciais tem-me causado algum desconforto. E não é só pelos 4 ou 5 pretendentes que, sedentos de fama (pela via mais barata) ou pobres de espírito (político) vieram, com a sua excessiva megalomania e auto-estima, re-baixar e enlamear um debate que até poderia ter sido interessante. E que não está a ser.
Lateralmente às minhas razões, que não vale a pena aprofundar sequer, António Guerreiro acrescenta alguns elementos importantes ao assunto, no remate da sua crónica (A ciberdemocracia), na ípsilon, de hoje, do jornal Público. Porque a sua leitura pode ser útil, vou transcrever, a seguir, a parte final da crónica referida:

"...A campanha presidencial a que estamos a assistir mostra bem o que significa uma democracia plebiscitária em que tudo se reduz à teatralização da esfera política. O ciberespaço revela-se assim na sua dupla face: factor de novas emancipações, ao mesmo tempo que promove alienações e patologias sociais inéditas. Os paradoxos desta nova condição do espaço público na época da «ciberdemocracia» podem ser apreendidos no exemplo dos comentários que os leitores escrevem no espaço que lhes é reservado nas páginas on-line dos jornais. Não há nada de mais democrático e interactivo, uma contínua discussão crítica estava assim prometida. Mas o que ganhou preponderância foi o insulto e a tagarelice. Aquele espaço de discussão, na maior parte das vezes, anula-se nos seus objectivos. Em vez de ser um factor de correcção das «patologias» mediáticas, é uma acentuação das suas perversões patológicas. De tal modo que muitos, os mais aptos a contribuir para o alargamento de um espaço público esclarecido, se afastam."

6 comentários:

  1. Se houver segunda volta, pode ser que se consiga discutir algo de jeito.
    Até agora é tudo uma miséria.

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    1. Vamos a ver...Porque é uma hipótese remota, segundo as sondagens.

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  2. Não é que AG contribua propriamente para um espaço público esclarecido, mas tem razão. Só que, para além dos habituais lugares-comuns (educação, civismo), não vejo solução. Os jornais, espaços públicos mas de propriedade privada, até poderiam (e deviam, mas estão à espera que um qualquer governo legisle, para depois poderem clamar pela liberdade de expressão)controlar, moderar, regular o debate nas suas "caixas de comentários". Mas... e o resto? As "redes sociais" não podem (nem devem) ser controladas, exceto pelos seus utilizadores.

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    1. Pelo menos, AG abre o pano para outras questões que nem sempre nos ocorrem.
      Uma das coisas que me confunde, e às vezes irrita, é os candidatos tentarem definir os "seus" programas de governo; outra, as sempreternas visitas a lares de idosos, talvez para mostrarem a sua bondade e caridade, inatas.
      Quanto às redes sociais, como não as frequento, posso bem com elas.

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    2. Ora lá está: não há como não frequentar também os candidatos. As pré-campanhas e as campanhas eleitorais acabam por passar. (O pior são as pós-campanhas...)

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    3. Concordo inteiramente com o final do seu comentário. Embora conservador, também gosto de mudança. Estes dez anos presidenciais saturaram-me, completamente.

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