As palavras têm uma origem própria, uma semântica. Mas no plano pessoal e mais íntimo podem também possuir uma (segunda) paternidade: daquele ou daquela a quem as ouvimos pela primeira vez - se nos lembrarmos disso. Finalmente, depois de muito gastas e mecanicamente usadas, podem ressurgir ou renascer, com novo vigor, por um acontecimento fortuito.
Por vezes, acontece que uma simples palavra ganha presença, destaque e um carácter novo, pela posição que ocupa num poema. Adquire perspectiva, mais ampla, dimensão diferente e autónoma. Distancia-se do contexto e significação com que a utilizávamos no dia a dia, anteriormente. Ganha vida.
Lembrei-me, hoje, disso ao preencher, nas palavras cruzadas, os quatro rectângulos do vocábulo lume. Aqui há 50 anos atrás, em autógrafo de Eugénio de Andrade (1923-2005), ao lê-la, essa palavra ganhou uma nitidez independente e uma força nova, imprevísivel antes, para mim. E assim continua...
Nota: Eugénio de Andrade nasceu a 19 de Janeiro de 1923, na Póvoa de Atalaia (Fundão).
Gosto da palavra "Lume", que, por acaso, associo logo a Eugénio de Andrade (poesia) e à minha avó (expressões que usava).
ResponderEliminarBom dia!
Ao contrário de "fogo" a palavra "lume" parece trazer um conceito ancestral, mais amplo..:-)
EliminarBom dia!
Lindíssimo! Bom dia!
ResponderEliminarAinda bem que gostou. Foi também uma forma de lembrar a data de nascimento de E. de A..
EliminarBom dia!
Nas romãs eu amo
ResponderEliminaro repouso no coração do lume.
Eugénio de Andrade dizia lume sempre que podia. Eu também uso lume - principalmente quando evoco nós todos à volta da lareira.
Não é alternativa a fogo. Fogo também é uma palavra muito bonita. Devemos usar as duas, aquecem-nos.
É verdade, A. C.. Mas nem toda a gente as distingue ou usa, em diferentes circunstâncias. O exemplo que referiu é muito sugestivo e convoca-nos para uma memória inicial do fogo primitivo.
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