sábado, 9 de janeiro de 2016

A propósito do próximo leilão de livros


Como em qualquer sociedade secreta, a iniciação na atmosfera específica de leilões, sobretudo de livros antigos, raros e usados, cria no neófito alguma incomodidade, uma prévia timidez de não estar à altura destas cerimónias nem das suas regras ortodoxas, bem como uma certa insegurança, pelo menos, da primeira vez. Senti tudo isso, quando em 1976 (passam 40 anos, no mês de Maio próximo), decidi ir ao primeiro leilão de livros promovido por Arnaldo Henriques de Oliveira, ali para as bandas do Príncipe Real. Fui confrade iniciático, independente e sem ligação, é certo, se bem me lembro e mais ou menos por essa altura, com Helena Roseta, Jorge Couto (ex-director da BNP), Marcelo Rebelo de Sousa, Ferreira do Amaral (o volumoso ex-ministro cavaquista) e Pedro Roseta, que tinha sido meu colega de tropa - como diria Pessoa: "...tão jovens, que jovens eram..."
Desenganem-se os não experimentados, que basta ser prudente, observar as regras, dominar a emoção nos lances, para não cometer asneiras. Devo confessar que cometi algumas leviandades ingénuas, por amor aos livros... mas são erros passados de que pouco me arrependo. Que as obras ficaram comigo, até hoje.
Anuncia-se, para breve (1, 2 e 3 de Fevereiro de 2016), no Palácio da Independência (às Portas de Santo Antão), em Lisboa, mais um leilão de livros, manuscritos e gravuras, promovido pelo competente livreiro-alfarrabista José Vicente, com um rico acervo de várias proveniências. Enchem-me os olhos duas edições mirandinas que, felizmente, possuo: a 2ª edição (1614) de As Obras (lote 928) de Sá de Miranda (com uma estimativa de venda entre 1.000 e 1.800 euros) e a impressão Rolandiana de 1784, em dois volumes pequenos, com previsão de venda entre 50 e 100 euros, ambas encadernadas. Mas há mais que, por gosto pessoal, queria destacar, por lotes e preços previstos:
- 108. Azevedo, padre Torquato Peixoto d' - Memórias Resuscitadas da Antiga Guimarães, na sua edição primeva de 1845, feita no Porto, com uma indicação entre 40 e 80 euros.
- 668. Helder, Herberto - Poemacto, da Contraponto, edição original e rara (1961): 120/ 200 euros.
- 1169. Régio, José - Os Poemas de Deus e do Diabo (1925), na sua impressão inicial, com uma previsão de venda entre 800 e 1.600 euros.
Mas também há obras muito em conta, para neófitos. Não tenham medo!, pelo menos, de ir e assistir...

4 comentários:

  1. Fui a poucos leilões de livros, mas o primeiro era miúda. Fui com o meu pai e provavelmente o leiloeiro era Arnaldo de Oliveira. Também me lembro de ter ido a um ou dois de Soares & Mendonça, na Rua Luz Soriano, de mobiliário e arte. E talvez também livros.

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    1. Era na Liga dos Amigos dos Hospitais, inicialmente. Numa sala exígua e esconsa, além de incómoda, em que os licitantes se sentavam a uma mesa longa, corrida...
      Creio que só bastante mais tarde, anos 90, fui ao Soares & Mendonça. Mas fui a um dos últimos leilões do Afra Filhos, na esquina da Duque de Loulé, muito "vip". Começava às 21h30, mas, antes do leilão começar até ofereciam café e whisky ou aguardente velha...

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  2. O Arnaldo de Oliveira, que conheci bem, fez muitos leilões na Casa da Imprensa e no Soares & Mendonça.
    Boa semana!

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    1. O Soares & Mendonça contou, muitas vezes, com a proficiência do Manuel Ferreira, do Porto, na elaboração de catálogos.
      Um resto bom de semana, também!..:-)

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