terça-feira, 24 de março de 2015

Cuidar dos vivos ou em louvor da memória e de A. V.


Eu, que me gabo, às vezes, de ter boa memória, ficava de rastos quando dialogava com A. V. (1938). Conheci-o, vai para 30 anos, no número 44, da rua do Alecrim, talvez por um comum amor aos livros. Eu ouvia, Tarcísio Trindade fazia pequenas observações, A. V. discreteava, fluente, sobre a vida cultural do século XX - enchendo a livraria de histórias. Datas, pequenos ditos, citações nobres, tudo parecia rejuvenescer das suas palavras - era um homem de peso: pelo vulto e pelo que sabia e nos lembrava.
Açoriano notório, excepto pelo sotaque, era generoso na partilha, afável na sua amena truculência medida, e deixava-nos, quase sempre, alguma pérola fulgente, ou alguma nota de humor urbano, para trazer para casa. Hoje, e no jornal Público, li, com imenso gosto e proveito, mais uma das suas crónicas exemplares. Desta vez, era sobre o Orpheu. Diz ele: "...O Orpheu projectou-se no grupo e na geração da Presença, nos Surrealistas, nos neorrealistas, nos Cadernos de Poesia e em sucessivos outros movimentos literários até aos nossos dias."
Só há uma coisa, nesta citação, em que não estou de acordo com ele: na referência à Presença. Embora estimável, foi um movimento literário retrógrado (pelo menos, conservador), em sentido restrito e não pejorativo, que colhia raizes bem para trás de Orpheu.
E, já agora, como não o tenho visto, com seis dias de atraso, lhe envio os Parabéns, meu caro A. V. - se me vier a ler. Até sempre!

2 comentários:

  1. Mas foi a Presença que divulgou os poetas de Orpheu.
    Bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Palavras justas e ponderadas - a "Presença" fez muito pela sua divulgação, é verdade.
      Boa tarde!

      Eliminar