domingo, 8 de março de 2015

Recuperado de um moleskine (11) : com "aggiornamento"


O nosso cosmopolitismo é de fachada - muitas vezes para tentar impressionar os outros -, o sentido crítico português é quase nulo, a filosofia lusa pouco sobe além do nível da conversa de tasca de província. Depois, é certo, temos o sol e a poesia. Mas sobre esta última, há muitos que se obstinam em cegamente confundir alhos com bugalhos e metem na mesma antologia versinhos e desgarradas, juntamente com Poesia. Não há nada a fazer, porque este estado de coisas arrasta-se há muito... Basta ler o que alguns espíritos esclarecidos portugueses escreveram, nos últimos séculos.
Porque, às vezes, o pessimismo também toma conta de nós para condenar, fatalmente, o nosso futuro, se o pensarmos. Hoje, no jornal Público, o articulista Vasco Pulido Valente finaliza, assim, a sua crónica: "...Portugal acaba com certeza por se transformar num «filme negro» (anos 40), sem Bogart, nem Bacall. E, nós, pachorrentamente, assistimos na nossa cadeira." Neste momento, eu até carregaria mais nas tintas pretas: somos uma espécie, alastrada pelo território nacional, de uma aldeia de província ocupada em conversas de soalheiro. E que absorveu, mal, a modernidade.
Como disse Eugénio de Andrade, citando Aquilino: "o melhor de Portugal cheira a estábulo."

14 comentários:

  1. A frase de Aquilino é... Aquilino!, que com estas tiradas era bastante cosmopolita.

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    1. E, no entanto, falou de Portugal como poucos, porque amava o terrunho, apesar de ter mundo...

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    2. É mesmo preciso ter mundo para o poder fazer.

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  2. Não vamos confundir as coisas. A aldeia, a província e o cheiro de estábulo não têm muito a ver com o assunto. As nossas "elites" são urbanas, lisboetas, filhos de estrangeiros. E o cheiro é infinitamente pior. Infelizmente, ao longo dos últimos séculos andam a aspergir todo o país...

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    1. As metáforas passam sempre por uma associação exagerada ou irreal. Eu prezo a província em tudo aquilo que ela tem de autêntico e natural, mas não nos esqueçámos dos horizontes cerrados, que também lhe são próprios. Muito embora, e muitas vezes, Lisboa, Porto e Coimbra tenham mentalidades raquíticas e mais pequenas que Gonça ou Sabordelo da Goma... ou Bobadela.

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  3. Fora desta discussão. Houve um tempo em que havia campo e havia cidade - "província", para mim, sempre foi elogioso. Em Portugal, a única cidade interessante foi sempre a cidade provinciana. Lisboa é, em desde o domínio filipino, uma verdadeira Bobadela, triste, limitada, sem brilho, imitadora, suburbana. Apenas o Estado centralista lhe foi dando protagonismo. Mas agora, com a Internet e afins, qualquer pastor de Gonça convive com os grandes intelectuais do mundo desenvolvido e genuíno, das cidades a sério... Sítios como Lisboa só interessam do ponto de vista etno-turístico.

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    1. Não estou muito certo dessa globalização da net pela província. E muita da província, de ontem, veio engrossar, hoje, muitos dos subúrbios das grandes cidades. E, esses, eu conheço-os relativamente bem.
      A questão é mental. E as Universidades, tão frequentadas hoje em dia, não chegaram a clarear a maior parte das mentes juvenis. Imagino que terá sido pelo bolor perpetuado dos Mestres. Muito semelhante ao que encontrei em Coimbra, nos anos 60. Tribalismo nas trupes, atavismo nos Mestres.
      Francamente não sei como se poderá dar volta a tudo isto, em Portugal.

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    2. Nem eu... Pelo que vejo, não será pelo "voto" nem por uma regeneração geracional...

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  4. Não sei se por esse mundo fora (que eu não conheço...) as mentalidades das populações em geral, serão muito diferentes das de Portugal ...será que são assim tão diferentes?

    Boa noite:)

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    1. Tudo me leva a crer que a situação não será muito diferente, lá fora, muito embora haja mais sentido crítico, cuja falta é endémica em Portugal.
      Uma boa semana!

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