terça-feira, 31 de março de 2015

2 fragmentos de um conto de Mestre Aquilino


Sem dúvida o que constitui a realidade sensível, ou seja em certas criaturas uma física especiosa, é pouco em face da obra do espírito, ou o ideal de que as veste a imaginação. Mais vale o desejo do que o prazer, a esperança de amor do que o próprio amor, a super-realidade filha da ficção do que o real filho da natureza. E o homem é infeliz porque confere ao material uma importância que não merece. (pg. 43)
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Nós as mulheres perdoamos todos os desconchavos desde que redundem em louvor nosso. (...) Cada vez me capacito mais que os homens não conhecem nada de nada das mulheres. E por isto: a tendência do espírito em criar o complexo. Se soubessem como somos simples, fáceis, objectivas, estamos na corrente dos desejos, longe do enigma que se aprazem ver em nós, o amor perderia os encantos de que o cercam o maravilhoso e a dificuldade, mas a espécie humana lucraria em sossêgo e pacificação. (pgs. 78 e 79)

Aquilino Ribeiro (1885-1963), in Quando ao Gavião cai a pena.

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