quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Na Baixa


Outono-Inverno clássico, à antiga portuguesa: céu plúmbeo, chuva que parece nunca mais acabar, algum vento, guarda-chuvas desconjuntados, abandonados pela rua. Imprecações, corridas, carros irritantemente esparrinhando água suja das poças para os peões desabrigados. E, de cima, goteiras desabridas, quais pequenas cascatas, pingando incessantemente, sobre quem passa colado às casas. Parece não haver nem sossêgo, nem refúgio.
Mas, no British-Bar, invocado Cardoso Pires, uma atmosfera edénica e morna, enxuta e anglo-saxónica, acolhe-nos, enfim. Podemos falar de Sheffield ou de Bona, sem perder de vista a Lisboa de Ricardo Reis. Ou Saramago - para ser mais exacto. Que no início do romance reproduz, com nitidez literária, esta cidade aberta aos quatro ventos e à chuva intensa da noite que chega.

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