quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

De Jorge de Sena para Ramos Rosa


"...Não serei eu quem a V. desanime como crítico: antes pelo contrário. No entanto eu entendo que, para falarmos de qualquer coisa, precisamos de estar num domínio do conhecimento mais vasto que ela. Quer isto dizer: a menos que pretendamos ser um crítico literário daqueles cujas subtilezas poéticas encantam o leitor com gostos barrocos, para sermos críticos realmente literários temos de estar culturalmente para além da literatura. Quando fazemos crítica de poesia - eu e V. -, parece-me que não podemos misturar (ou tomar um pelo outro) o dom da experiência e juízo que a poesia própria, ou alheia à luz desta, nos dão, com realmente a objectividade crítica que só conhecimentos de certo modo estranhos à experiência poética (de certo modo apenas, pois que tudo sendo nosso ilumina e proporciona a experiência) nos garantem. ..."

Jorge de Sena, em carta de 17/3/1953, para Ramos Rosa.

4 comentários:

  1. Ambos ótimos poetas e ótimos críticos.
    Quanto à frase, nunca percebi como certas pessoas se aventuram em certos domínios de que entendem pouco ou nada. Para criticar tem de se saber muito da matéria objeto a crítica.

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  2. Pois é os críticos competentes quase desapareceram (ressalve-se António Guerreiro e pouco mais...) ou remeteram-se ao silêncio, por falta de espaço de publicação, credível. Abundam é os curiosos-amadores e os propagandistas da banha da cobra...

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  3. A crítica literária, teatral, musical, etc., está pelas ruas da amargura em Portugal.

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  4. Infelizmente, é a triste realidade portuguesa...

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