A literatura espanhola conta com dois escritores de nome Garcilaso de la Vega. Um, poeta e o outro historiador. Aquele de que quero falar, para o distinguirem do poeta, chamam-lhe "El Inca Garcilaso de la Vega". Nasceu no Peru, em Cuzco, a 12 de Abril de 1539, filho do capitão espanhol D. García Lasso de la Vega e da princesa inca Isabel Palla Chimpu Occlo, filha do chefe Huallpa Tupac. Garcilaso viveu com a mãe até aos 10 anos e é dessas memórias e conhecimentos que irá falar na sua obra-prima intitulada "Comentarios Reales de los Incas", publicado pela primeira vez em Lisboa, em 1609. Garcilaso viera para a Europa aos 21 anos de idade. Estudou, combateu, escreveu e traduziu os "Diálogos de Amor" de Leão Hebreu. Dominava o latim, o italiano, o espanhol e o quechua. Homem da renascença espanhola, como militar serviu sob as ordens de D. João de Áustria, mas acabou por se retirar para um mosteiro, desiludido. Dividido entre duas culturas, dizia nos "Comentarios Reales...": "...Naquele tempo tive notícia de tudo aquilo que temos vindo a escrever porque, na minha meninice, me contavam as suas histórias (dos Incas, reis do Peru) como se contam as fábulas às crianças pequenas. ..."
P. S. : em complemento, para H. N..
Nunca ouvi falar! Fascinante...
ResponderEliminarCurioso, conheço um Lasso de La Vega, natural de Sevilha, filho de pai espanhol e mãe portuguesa. Ilustre de ambos os costados (excelente Pessoa, o que é o mais importante), quem sabe se descendente deste...
A propósito de «Diálogos de Amor», de Leão Hebreu, e se me dá licença, aproveito para lhe pedir que me dê «umas luzes» sobre a obra. Comprei-a no outro dia, num alfarrabista, porque li um pouco e achei-a curiosa, mas sem ter bem ideia do que estava a comprar [o que aliás, diga-se, é frequente... :-)]
Muito grato.
Caro c. a.:
ResponderEliminarnão o vou poder ajudar muito sobre o Leão Hebreu, ainda para mais porque não é muito "cá de casa". Possivelmente, comprou a tradução de Reis Brasil. O que sei é que L.H.era da família Abravanel, judeus portugueses muito considerados por D.Afonso V e D.João II, e viveu a infância, pelo menos, em Portugal.Aquando da Perseguição aos judeus, emigraram para Itália, e os "Diálogos de Amor" foram lá publicados. Foi bastante lido, no Renascimento,na Ibéria, França e Itália. Por cá, arrumam-no, geralmente, nos místicos, e na companhia de Arrais e Tomé de Jesus. Houve quem pusesse a hipótese (peregrina) de que a "Menina e Moça" teria sido escrita por ele, mas não há argumentos que o justifiquem.
E é tudo o que lhe posso dizer.
Preciso e conciso, exactamente o que eu precisava. Assim já me oriento. V.Exa é precioso! (repito-me, mas é a verdade) Muito grato!
ResponderEliminarCuriosamente foi um marinheiro português que lhe salvou a vida, quando, aos 21 anos - ainda se chamava Gómez Suárez de Figueroa - recebida a herança do pai, vinha para Espanha pela rota dos galeões.
ResponderEliminarEm 1563, desiludido com as intrigas da corte,muda de nome, alista-se no exército do Infante D. João, na repressão de Granada. Mas a sua condição de mestiço não lhe é favorável. A herança de um tio deixa-o com bastante desafogo. Abandona o exercito, entra para a religião e convive com alguns nomes da cultura.
Inca Garcilaso de La Vega jaz na catedral de Códova, na capela das Almas, que mandou construir.
Em 1978 (25.11) El Rei Juan Carlos I depositou na Catedral de Cuzco - Peru - uma pequena urna com parte das suas cinzas.EW disse:
(...)O Inca Garcilaso de La Vega é a corporização antecipada de uma grande mestiçagem e do seu primeiro reflexo na nossa literatura. Cronista sublime, com seu estilo claro e simples de grande escritor, abre a cadeia de ouro da contribuição americana à história comum das nossas letras.
Os seus COMENTARIOS REALES (...)constituem o primeiro esforço de difundir no velho continente o conhecimento de uma América recém descoberta.(...)
DIÀLOGOS DE AMOR - texto fixado e anotado por
Giacinto Manuppella, Vols I e II Lx, 1983
Obrigado, Luís, e já agora, como não o tinha dito antes, aí vai:
ResponderEliminarEl Inca Garcilaso era ainda parente, pelo lado paterno, do Marquês de Santillana e de Jorge Manrique, o das "Coplas por la muerte de su padre" ("Recuerde el alma dormida/ avive el seso y despierte...") de que o nosso D. João II gostava muito. E que trazia sempre consigo, escritas num papelinho,até à morte, em Alvor.
Eu também gosto do Jorge Manrique. E desconhecia essa preferência de D. João II.
ResponderEliminarPara Miss Tolstoi:
ResponderEliminareu creio que havia duas razões para o gosto de D. João II. Porque ele foi - sem ironia - um filho exemplar. D. Afonso V teve imensa sorte.
É o meu rei - o D. João II. E também gosto de Jorge Manrique.
ResponderEliminarComigo em pleno, MR!
ResponderEliminarCON EL
ResponderEliminarSi Garcilaso volviera,
yo seria su escudero;
que buen caballero era.
Mi traje de marinero
se trocaria em guerrera,
ante el brillar de su acero;
que buen caballero era.
!Qué dulce oírle, guerrero,
al borde de su estribera!
En la mano,mi sombrero;
que buen caballero era.
Rafael Alberti
MARINERO EM TIERRA
Obrigado, Luís.
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