quarta-feira, 28 de abril de 2010

A Carta da Índia, de Luís de Camões


Pequena terra a nossa em que os pastores são muitos, e as ovelhas poucas. E cada um dos Mestres procura um cantinho protegido do prado para a sua preciosa ovelha. Nos anos 60, quem apascentava Luís de Camões, em Coimbra, era o Prof. Dr. Álvaro Júlio da Costa Pimpão que tinha, como seus assistentes, Vítor Aguiar e Silva e Ofélia Milheiro Caldas (ou agora, Ofélia Paiva Monteiro), especialista ou pastora de Garrett. Ora, nesta ortodoxia pacífica reinante e salazarista, não é que aparece um engenheiro, vagamente poeta, a falar e estudar Camões!?... Desaforo, desrespeito. E houve uma intensa guerra surda que se prolongou para o Brasil universitário quando Jorge de Sena para lá foi. Histórias antigas...que acabam numa introdução de Vítor Aguiar e Silva às "Obras - Edição Fac-Símile da Edição de 1595" de Francisco de Sá de Miranda (Braga, Universidade do Minho, 1994). É um subtil ajuste de contas do antigo assistente de Costa Pimpão, com esse intrometido Poeta. Só que Jorge de Sena tinha falecido em 1979. E, embora eu preze a competência científica e saber de Aguiar e Silva, achei este ajuste, no mínimo, deselegante e sem que permitisse um contraditório.
Ao que eu vinha, era falar das Cartas de Camões - poeta que sempre foi uma "ovelha" muito apetecida nos meios académicos. À obra do nosso Poeta uns lha acrescentaram, outros lha diminuíram, em nome de um cânone mais justo ou mais purista. Hernâni Cidade atribui a Luís de Camões cinco cartas, enquanto Costa Pimpão, apenas, garante duas. Há, no entanto, uma convergência: é a chamada "Carta da Índia" que em Pimpão é a primeira e, em Hernâni Cidade, a segunda. É uma carta muito viva e saborosa (aquela referência às mulheres na Índia...), e o Luís andava a pedi-la. Aí vai, sem mais, e em digitalização da obra de Costa Pimpão.




5 comentários:

  1. Pois o pasto é pouco para tanto pastor... quase sem ovelhas.

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  2. Üa vossa me deram, a qual, pelo desacostume, me pôs em tamanho espanto como contentamento, em saber novas de quem tanto as desejava;
    E, pera verdes, digo que há cá dama tão dama que, se a um mostra bom rosto, porque lhe quer bem, aos outros não mostra ruim, porque lhes não quer mal.

    Por agora não mais, senão que este Soneto que aqui vai...


    Em flor vos arrancou, de então crescida
    (Ah! Senhor Dom António !) a dura sorte,
    Donde fazendo andava o braço forte
    A fama dos antigos esquecida.

    Üa só razão tenho conhecida
    Com que tamanha mágoa se conforte:
    Que pois no mundo havia honrada morte,
    Que não podieis ter mais larga vida.

    Se meus humildes versos pedem tanto
    Que co desejo meu se iguale a arte,
    Especial matéria me sereis.

    E celebrado em triste e longo canto,
    Se morrestes nas mãos do fero Marte,
    Na memória das gentes vivereis.

    Não será orgulho para o Lírico. E do tema prefiro:

    Alma gentil, que á fria eternidade

    A troco destas novas vos darei outras, desta terra tão contrárias dessas, como estavos dirá.
    E não vos esqueçais de escrever mais embora não me fique que responder. Vale.

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  3. Por curiosidade,embora seja conhecida mais ou menos a história: este D.António de Noronha, filho dos segundos Condes de Linhares, acompanhou o tio, D.Pedro de Meneses, Governador de Ceuta, a quem armaram uma emboscada. D. António foi dos poucos que não fugiu. Tinha 17 anos, foi em 1553.
    Esteve sepultado na Catedral de Ceuta, depois veio para Portugal e ficou no Convento do Beato, num aposento onde estão, também outros Noronhas, e onde funcionou um forno de malte quando lá esteve instalada uma fábrica. Agora em ruínas. Mais tétrico: o corpo de D. António veio sem cabeça

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  4. Bom eu gostei pelo história de antigo maior P

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    1. Não consegui perceber o que quis dizer, no seu português desconcertante e não concordante em géneros...

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