Em matéria de literatura, sempre considerei ser mais fácil elaborar um discurso positivo, numa perspectiva de aceitação de uma obra integrada no chamado cânone literário. Rejeitar, com argumentos convincentes, leituras e estudos que a tradição instituiu torna-se, pelo contrário, tarefa complexa, para além do assombro inegável de contrariar trilhos profundamente marcados.
Ora, na apreciação daqueles que nos têm ensinado literatura - sendo o sublinhado nosso e consciente para contrariar tendências recentes que pretendem negar semelhante competência docente - sucede, exactamente, o contrário.
Num discurso negativo interior, numa espécie de arquivos mortos, ficam aqueles que não souberam acrescentar conhecimento, saber, gosto e entusiamo relativamente às obras literárias de que, pretensamente, falavam. No lado oposto perduram, na memória, todos os docentes que, na devida altura, lançaram uma semente perene.
Vem tudo isto a propósito de um professor que, para além do seu conhecimento, saber de experiência feito, gosto literário e estética, soube despertar, naqueles que estavam preparados para receber a lição, o gosto pelo suporte da escrita, das obras de que falava. Falo, como é óbvio, do Senhor Professor Doutor J. V. de Pina Martins, na altura, docente da cadeira de Literatura Portugesa IV. Tive, ainda, o grato privilégio de ter sido sua aluna.
Reproduzo acima a portada da Vita Christi, em homenagem ao meu antigo professor, falecido no passado dia 28 de Abril de 2010. Foi ele que, um dia, me depositou nas mãos o exemplar do referido incunábulo português, do espólio da biblioteca da FLUL, pedindo um comentário meu. O gesto, inesperado e inusitado, provocou o mutismo inerente aos confrontos humanos profundos. No entanto, o gosto matricial pelas letras humanas, na sua forma de "sinais práticos e úteis, formas puras e melodia interior", não deixou, jamais, de religar os meus estudos posteriores ao apelo que então recebi do Senhor Professor Doutor J.V. de Pina Martins. Espero não desmerecer, naquilo que farei, o estatuto de ter sido sua aluna.
Post de HMJ
Vou fazer uma confissão sem tratado:
ResponderEliminarjusta homenagem.Pena o Estado português não lhe ter reconhecido publicamente,ao que me parece, e em tempo, o mérito.
Curioso ter começado como poeta. Depois ganhou juizo e dedicou-se a coisas sérias.