sexta-feira, 30 de abril de 2010

J.V. de Pina Martins - In Memoriam


Em matéria de literatura, sempre considerei ser mais fácil elaborar um discurso positivo, numa perspectiva de aceitação de uma obra integrada no chamado cânone literário. Rejeitar, com argumentos convincentes, leituras e estudos que a tradição instituiu torna-se, pelo contrário, tarefa complexa, para além do assombro inegável de contrariar trilhos profundamente marcados.
Ora, na apreciação daqueles que nos têm ensinado literatura - sendo o sublinhado nosso e consciente para contrariar tendências recentes que pretendem negar semelhante competência docente - sucede, exactamente, o contrário.
Num discurso negativo interior, numa espécie de arquivos mortos, ficam aqueles que não souberam acrescentar conhecimento, saber, gosto e entusiamo relativamente às obras literárias de que, pretensamente, falavam. No lado oposto perduram, na memória, todos os docentes que, na devida altura, lançaram uma semente perene.
Vem tudo isto a propósito de um professor que, para além do seu conhecimento, saber de experiência feito, gosto literário e estética, soube despertar, naqueles que estavam preparados para receber a lição, o gosto pelo suporte da escrita, das obras de que falava. Falo, como é óbvio, do Senhor Professor Doutor J. V. de Pina Martins, na altura, docente da cadeira de Literatura Portugesa IV. Tive, ainda, o grato privilégio de ter sido sua aluna.
Reproduzo acima a portada da Vita Christi, em homenagem ao meu antigo professor, falecido no passado dia 28 de Abril de 2010. Foi ele que, um dia, me depositou nas mãos o exemplar do referido incunábulo português, do espólio da biblioteca da FLUL, pedindo um comentário meu. O gesto, inesperado e inusitado, provocou o mutismo inerente aos confrontos humanos profundos. No entanto, o gosto matricial pelas letras humanas, na sua forma de "sinais práticos e úteis, formas puras e melodia interior", não deixou, jamais, de religar os meus estudos posteriores ao apelo que então recebi do Senhor Professor Doutor J.V. de Pina Martins. Espero não desmerecer, naquilo que farei, o estatuto de ter sido sua aluna.
Post de HMJ

1 comentário:

  1. Vou fazer uma confissão sem tratado:
    justa homenagem.Pena o Estado português não lhe ter reconhecido publicamente,ao que me parece, e em tempo, o mérito.
    Curioso ter começado como poeta. Depois ganhou juizo e dedicou-se a coisas sérias.

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