Li hoje, com grande deleite, Regra e Estatutos da Ordem de Santiago, numa edição de 1548, impressa por Germão Galharde ( ? -1561?). Não só os caracteres tipográficos (góticos) são de grande perfeição técnica e estética, como o texto, em português antigo, supervisionado, seguramente, por D. Jorge de Lencastre (1481-1550), Grão-mestre da ordem, é de uma limpidez e escorreiteza singular admirável. Até aqui, história e bibliofilia.
Vamos lá às Mercearias Finas. Por entre os pecados capitais referidos na Regra e Estatutos ..., há, adequadamente uma caracterização e advertência à Gula. Para que, como pecado, seja evitado pelos cavaleiros da Ordem de Santiago. Reza assim
"Se pôs sua bemaventurança em comer e beber.
Se comeu e bebeu muitas vezes por deleitação.
Se por muito comer ou beber esteve doente.
Se bebeu de maneira a que saísse de seu sentido."
Se por muito comer ou beber esteve doente.
Se bebeu de maneira a que saísse de seu sentido."
Ora pro nobis!
P. S. : para JAD, naturalmente.
Eu, pecador, me confesso...
ResponderEliminarE um terno e guloso obrigado.
E também sofro do pecado da gula por livros... não bem bibliofagia, mas... amante dos ditos que muitas e muitas vezes me acompanham na cama...
ResponderEliminarDepois de ter feito uma longa e saborosa e sugestiva e laboriosa transcrição, um qualquer comando, errado ... e ela foi-se.
ResponderEliminarSem pachorra para insistir, deixo a sugestão:
Karen Blixen - A FESTA DE BABETTE
Para abrir o apetite: Amontillado, sopa de tartaruga, blinis Demidoff, Veuve Cliquot de 1860, cailles en sarcophage ...
Ó vós, Sábios Varões, que lá na Aldeia
ResponderEliminaraos filhos lições dais de economia,
e lhes ensinais que a uz duma bugia
faz despesa maior que a da candeia:
Vós, que ao lume comeis no inverno a ceia
de caldo de unto e de batata fria,
que tendes um rocim na estrevaria,
e um Moço só que as hortas vos grangeia:
Vós fazeis muito bem, poupai que é justo;
Que um Fidalgo talvez se condecora
em não causar aos seus credores susto.
Poupai, e sese ilustres, muito embora;
Mas querer Senhoria a pouco custo,
isso se usa no Porto e não cá fora.
Abade de Jazente
O rei (D.João II), como um senhor de alta inteligência, contenta-se com quatro ou cinco pratos à sua mesa; bebe unicamente água tirada do poço sem açúcar nem especiarias e passa só com isso. O príncipe seu filho bebe vinho misturado com água e come os mesmos pratos que seu pai mas em serviço separado.
ResponderEliminarOs servidores da mesa(...) são geralmente dez indivíduos que estão de pé, segundo ordem, diante da mesa, e apoiam nela as mãos e os ventres, e o rei, como um humilde senhor, sofre essas grosserias.
Debaixo da mesa, aos pés do rei, estão sentados seis a oito rapazes, e de cada lado (do rei)um, para enxotar dele as moscas, com abanos de seda. Com todos eles reparte o seu prmeiro prato de fruta quando a não pode comer toda. Se não há hóspedes convidados à mesa não se serve de facas; morde com os dentes, ou parte com as mãos o pão como o rei da Polónia, isso mesmo que tenha faca ao dispor. O filho do rei serve-se de uma faca à mesa. A refeição é servida a ambos em pratos e vasos ordinários, como se fossem príncipes de uma corte de pequena importância.
Texto de um viajante polaco, Nicolau Popielovo, em 1484, trad. em espanhos de Garcia Mercadal
Obrigado, Luís,pelos seus comentários que vieram enriquecer o post. Já D.Duarte bebia o vinho "martelado" com água..Antes de Popielovo(que Fernando Cristovão abordou em "Um Cavaleiro «Europeu» perdido na Peninsula Ibérica:...)há relatos de Oswald de Wolkenstein (tem até uma poesia sobre a tomada de Ceuta-1415), Jorge Ehingen e, já depois do polaco,o relato de Jerónimo Münzer (1494/5), também, sobre a corte de D.João II (abordado "Voyage en Espagne et au Portugal"). A particularidade é que foi Valentim Fernandes, um dos primeiros impressores em Portugal (da Morávia) quem lhe serviu de ´"língua", ou seja, de intérprete.
ResponderEliminarEspero ter contribuído com uma retribuição condigna com a sua visita. Cordialmente.
Mas, cuidado que "A gula mata mais do que a espada" (Herbert George dixit; este poeta viveu no século XVI, entenda-se).
ResponderEliminarEis um poeta avisado...o que não é muito frequente...
ResponderEliminarObrigado pelo seu "apport", Miss Tolstoi!
Gostei do post e dos comentários.
ResponderEliminarObrigado, MR.
ResponderEliminar"Em busca de aventura gostaria de partir,
ResponderEliminarpor montes e vales, sem voltar acasa..."
Não é assim,Telmo Pais,não é assim que começa aquele poema que minha Mãe diz que não entendo?
Cit.mem.
Na "mouche", Luís!
ResponderEliminar