domingo, 25 de abril de 2010

Salão de Recusados XIV : Contra a cegueira ou ignorância



Na madrugada alta (talvez 4 da manhã) de 25 de Abril de 1974, o carro onde eu seguia, com o meu amigo E. S., guinou para a direita, em direcção ao Largo de S. Sebastião da Pedreira, para me levar a casa. Vi, então, uns vultos em ângulo quase recto, de metralhadoras aperradas, cosidos à parede, rodeando o Quartel-General. Eram soldados, e eu disse para o meu amigo: "- Olha!, devem estar em exercícios. A esta hora..." Depois, e a partir da manhã, foi o melhor ano e meio da minha vida.
Hoje, sintonizando alguns blogues, vejo o esquecimento, o "pudor e o cuidado", a cegueira, a ignorância, o "voluptuoso desejo de imobilidade" (de que fala Lampedusa), ou a excessiva juventude de alguns escritos, e fico perplexo. E apreensivo. Porque se não se põem a pau, esta "juventude", dentro de alguns anos, vai apanhar com ditaduras muito mais pesadas e sofisticadas do que aquela que eu vivi, durante quase 30 anos. Com a caturrice de velho, deixo 2 citações que talvez ajudem a reflectir. Pelo menos, para aqueles que ainda pensam. Livremente.

"É legítimo recear que a Revolução, como Saturno, devore sucessivamente todos os seus filhos."
Pierre Vergniaud (1753-1793)

"Façam da Revolução a base de uma estabilidade e não um berçário de futuras revoluções."
Edmund Burke (1729-1797).

6 comentários:

  1. Não me parece que exista caturrice de velho no que escreveu, apenas lucidez e algum desencanto.
    Bom domingo!

    ResponderEliminar
  2. Eu não diria melhor - passe o que pode parecer pesporrência e é só agrado.
    É isso! O que disseram os dois

    ResponderEliminar
  3. Na madrugada do 25 de Abril, julgo que não estava sequer a ser pensada. Se o estava, então sou provavelmente o pensamento mais logo da história, visto que só 9 anos depois vi a luz do dia.
    As grandes alegrias do país e do mundo passaram-me, entretanto, ao lado; não me lembro do muro cair nem de entrarmos para a CEE (a alegria isto é discutível, claro, mas gosto de pensar que não foi o pior que nos aconteceu).
    As minhas primeiras memórias políticas são o assassinato de Yitzhak Rabin e o buzinão da ponte.
    Tenho telemóvel desde os 16 e cartão multibanco desde os 13; lembro-me da vida sem internet, mas não consigo reconstruí-la na minha memória. Quando quero fazer um cartão de um hpermercado qualquer, porque me dizem ser vantajoso, perguntam-me quanto ganho, onde, porquê e o número de telefone de quem me dá ordenado. O meu telemóvel não funciona se não activar o localizador (dizem que é para poder encontrá-lo se o perder).

    Tudo isto para dizer que, apesar de estar a pau, tenho a sensação de ter um galho na mão e que a luta seria contra uma sequóia velha. Sofisticado é, sem dúvida. Mas ao menos, por enquanto, vamos podendo dizê-lo...

    ResponderEliminar
  4. Agora temos a ditadura coberta por várias camadas de entretenimento, mas ela continua.

    ResponderEliminar
  5. O meu 25 de Abril também começou às 4h00. Às 8h00 já estava na rua.
    Foi o dia mais feliz da minha vida e começaram dias e anos inesquecíveis.

    ResponderEliminar