quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Filatelia LXXV : soberanias breves e países inexistentes


Como permanecer, depois da vitória, acampado no terreno da batalha para assegurar e testemunhar o triunfo bélico, também um dos atributos de soberania é a emissão de selos postais, destinados à correspondência escrita e a enviar. Um caso português concreto é o da sobrevivente emissão filatélica da efémera Monarquia do Norte (1919), de Paiva Couceiro, cujos selos nem chegaram a circular. Mas esta singularidade também se pode verificar em alguns dos chamados antigos estados alemães: Bergedorf emitiu apenas (1861) 5 selos que tiveram curto período de circulação ou Mecklenburg-Strelitz (1864), com 6 estampilhas apenas, na sua magra história filatélica. Kionga (Moçambique), com apenas 4 selos, Fiume (Itália), New Brunswick (Canadá), são alguns dos muitos exemplos.
A sofisticação no fabrico e a informação atempada e especializada, sobretudo a partir da 2ª metade do séc. XX, fizeram acabar também com uma prática dolosa que teve o seu epicentro em finais do século XIX. Estou a referir-me à emissão e venda de selos de Estados totalmente inexistentes, que eram comprados por filatelistas apaixonados, mas ingénuos e, talvez, pouco conhecedores de História e Geografia. Foi assim que alguns falsários ganharam bom dinheiro. O último caso, que me lembre, datado dos anos 40/50, foi a aparição, nos mercados filatélicos, de selos muito sugestivos de uma pretensa Republik Maluku Selatan, absolutamente inexistente. Mediaram alguns anos até revistas filatélicas especializadas darem conta do logro. Vão 2 destes selos, na primeira imagem do poste.
Finalmente, e o caso tem algo a ver com Portugal, foi o aparecimento, para venda em lojas filatélicas, nos finais do séc. XIX, de selos de Bateken, uma imaginária colónia portuguesa, que se situaria na África Equatorial. Os carimbos (falsos porém), em português, ostentavam a marca datada de 1897 e a moeda dava pelo estranho nome de: Angella. Ainda hoje se desconhece o autor deste negócio fraudulento, mas eu inclino-me para que fosse inglês, até porque os selos parecem inspirar-se em estampilhas de Zanzibar - na altura, colónia britânica.


à memória de A. H. de Oliveira Marques, emérito e estudioso Filatelista, a quem ouvi falar, pela primeira vez, nos falsos de Bateken.

10 comentários:

  1. A monarquia do Norte chegou a ter selos! Mesmo que não tenham circulado, é um facto muito curioso...

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  2. Oliveira Marques sabia quem era o autor da falsificação. E o curioso nome da moeda, ainda me lembro da história: era, nem mais nem menos, uma adaptação do nome da "senhora / uma amiga" do dito homem: uma tal de Ângela... (que tanto quanto eu me lembro trabalhava num teatro)... mas a minha memória está em farrapos!

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  3. É verdade. No dia em que os selos foram postos nos Correios, o exército, legal e republicano, reconquistou o Porto. Há mais uns pormenores no poste "Filatelia LXXI..." de 16/8/2013.

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  4. Pinto?
    Pena que o nome do falsário não tivesse ficado para a história...
    Grato pela achega, JAD.

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  5. Gostei deste post, para além dos selos serem giros.

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  6. Fico contente que tenha gostado.
    Bom dia!

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  7. Muito interessante. Desconhecia esta história. Adorava colar selos nas cartas, mas agora só há aqueles malfadados carimbos - perde toda a piada.

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  8. A política rigorosa, conservadora no bom sentido, e profissional dos correios europeus (tirando os de Leste), até aos anos 70, na saída equilibrada de novas emissões, assegurou um justo equilíbrio, também estético. Depois, o iupismo, de gestores menos escrupulosos, apercebeu-se da mina que eram os coleccionadores de selos e, a partir daí, começou o exagero e a exploração...As tarjetas postais são um dos paupérrimos exemplos da falta de gosto.

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  9. Desculpem, mas não percebo. Acredito que possa haver falsificação em selos, mas o exemplo dado não me parece que o seja.
    Republik Maluku Selatan existiu mesmo!...
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_das_Molucas_do_Sul

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  10. Escrito há mais de 3 meses, este poste, não tenho comigo e à mão todos os elementos (além dos selos) em que fundamentei as afirmações.
    O que posso dizer-lhe é que, com benevolência, poderemos afirmar que os selos não tinham suporte legal e institucional para serem emitidos. Vários catálogos sérios o referem (Scott's, por exemplo), bem como terem sido obra de Henry Stolow, comerciante pouco honesto, que viu na emissão destes selos uma forma de ganhar dinheiro, através de filatelistas de boa fé.

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