domingo, 6 de outubro de 2013

A par e passo 60


Nunca é coisa fácil representar com nitidez aquilo a que chamamos uma nação. Os traços mais simples e os mais impressivos escapam aos nacionais, que são insensíveis ao que vêem todos os dias. O estrangeiro que os percebe, percebe-os com demasiada intensidade, e não se ressente desta quantidade de correspondências íntimas e de reciprocidades invisíveis pelas quais se cumpre o mistério da união profunda de milhões de homens. (...) Falamos facilmente do direito, da raça, da propriedade. Mas o que são o direito, a raça, a propriedade? Sabêmo-lo e não o sabemos!
Assim, todas estas noções poderosas, simultaneamente, abstractas e vitais que fazem parte de uma vida tão intensa e tão imperiosa em nós, todos estes termos que compõem no espírito dos povos e dos homens de Estado, os pensamentos, os projectos, os raciocínios, as decisões de que dependem os destinos, a prosperidade ou a ruína, a vida e a morte dos humanos, são símbolos vagos e impuros que fogem à reflexão..."

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pgs. 36/7).

Sem comentários:

Enviar um comentário