sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Jacome Ratton sobre o Marquês de Pombal


"...Era extremamente reservado com sua Familia, e amigos, a respeito de negocios do estado, de modo que ninguém podia descobrir, da sua conversação, gestos, ou maneiras, os negocios, que o occupavão; e que se devião conservar em segredo. Ouvia as partes sem lhes interromper as suas fallas; e as suas respostas erão graves, breves, e terminantes, revestidas sempre da autoridade do Soberano, e não de seu motu proprio. Não consta que se enfandasse, e descompuzesse as partes, que o buscavão, por mais que estas se desmedissem em suas palavras; nem que em sua casa apparecesse pessoa alguma, que lhe fosse fallar em negocios dependentes da sua repartição, que não fosse recebida debaixo do mais estreito ceremonial. Sabendo assim conciliar o reciproco respeito que o publico deve ter aos Ministros do Soberano, e estes ao publico.
Possuia mais o Conde de Oeyras hum arranjo methodico, tanto na distribuição do seu tempo, como nas materias de que se achava encarregado; e foi por efeito deste arranjo methodico que elle pode dirigir bem todas as repartiçoens do Estado, a ponto de o fazer prosperar tanto que, a pezar da re-edificação da cidade, extinção dos Jesuitas, estabelecimentos de innumeraveis fabricas, escolas publicas, reforma dos Estudos, e guerras que  ocorrerão no seu tempo, deixou, quando sahio do ministerio 48 milhoens de cruzados no Erario Regio, e 30, segundo ouvi nos cofres das Decimas: riqueza que ja mais se tinha ajuntado desde a descoberta das minas. Este espirito methodico se mostra bem no arranjo economico da sua propria casa, o qual confirma a axioma de que quem não sabe bem governar a sua casa, não presta para governar o estado. ..."

Jacome Ratton, in Recordações de... (pgs. 152/3).  

4 comentários:

  1. Bem interessante. Também gostava de ser mais metódica...

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  2. Na continuação do comentário de Margarida Elias: eu também. :)

    Quanto às Recordações de Ratton são muito interessantes. Está a gostar, APS?

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  3. Imenso, MR. Além disso, Ratton era um homem muito pragmático e realista. Uma das suas utopias - que também as tinha - era criar um canal que ligasse o Sado ao Tejo...

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