Não é fácil a poesia da americana Marianne Moore (1887-1972), que tem quase sempre, semeada pelos seus versos, uma ironia seca que nos acorda para a realidade mais objectiva, e por vezes amarga do dia a dia, ou dos poderes instituídos. Já por aqui, no Blogue, lhe traduzimos dois poemas e qualquer deles não será de fácil agrado, nem de empatia imediata. Mas esta poética do agreste, algo prosaica, tem em si uma densidade pouco habitual que nos faz pensar e ir para além das suas palavras, aparentemente, simples. Aqui vai mais um poema:
Valores em uso
Eu frequentei a escola e gostei do lugar -
da relva e da sombra das folhas lacustres.
A escrita era discutida. Eles diziam, "Nós criamos
valores no processo de viver, não ousemos esperar
pelo seu processo histórico." "Sendo abstracto,
desejarás ser específico. É um facto."
O que é que eu estudava? Valores em uso
"julgados em si mesmos." Serei ainda abstrusa?
Passeando, um estudante disse, a despropósito,
"«Relevante» e «plausível» eram palavras que eu entendo.
Uma afirmação simpática, meu amigo anónimo.
Certamente que os meios não destruirão o fim.
Hei-de voltar a lê-lo.
ResponderEliminarVale a pena.
ResponderEliminarNão conhecia a palavra "abstrusa" e fui ver ao dicionário.
ResponderEliminarAcho que é um vocábulo que se aplica ao próprio poema.
É estranho, mas atrai-me. Gostei.
Boa noite!
Os poemas de M. Moore ganham com segundas leituras. Ou ganhamos nós..:-))
ResponderEliminarBoa noite, Isabel!