[Imigração para a Alemanha - 2012]
O gráfico que encima o “post” foi publicado pelo jornal DIE
WELT, na sua linha editorial da “voz do dono”, para acompanhar as recentes
declarações da Senhora Merkel sobre imigração, proferidas no âmbito de uma
conferência sobre demografia. Perante a conhecida falta de “trabalhadores
qualificados” para a indústria alemã, a “excelsa senhora” afirmou que a
Alemanha tem boas condições de “acolhimento, mas com uma má imagem” lá fora. Sendo o sublinhado nosso, uma
máxima deste calibre, da boca de uma pobre figura, merece um apontamento mais
desenvolvido.
Existe uma categoria de alemães, de difícil transposição
linguística para o espaço das línguas românicas, os chamados “Spiesser” ou
“Biedermänner” – de notação depreciativa – que os ingleses designam como
“narrow-minded”, o que me parece mais apropriado do que o simples “burguês
atrasado” que consta do dicionário Langenscheidt. E como demonstra a máxima
proferida, os “Biedermänner” não se apercebem do ridículo das suas pobres
figuras, nem assumem a responsabilidade pela “má imagem” que espalham.
O que parece óbvio é que a “crise” nos países do Sul da
Europa já está a servir, na perfeição, a indústria alemã, fornecendo-a com
“trabalhadores qualificados”, a custo zero para o estado alemão. Certamente, as
entidades alemãs dispensavam a “mobilidade indesejada” dos Romenos e Búlgaros
e, por isso, andam todos preocupados. Como se vê, não é qualquer “mobilidade”
que serve, apenas a “mão-de-obra qualificada” para compensar os problemas da
demografia alemã.
No entanto, as declarações da Senhora Merkel fizeram-me
lembrar uma peça de teatro que Max Frisch publicou em 1948, intitulado Biedermann und die Brandstifter, que os
franceses traduzem como Monsieur Bonhomme
et les incendiaires. Pela explicação que dei acima, a tradução francesa é
demasiado lisonjeira para com os “Biedermänner”, porque lhes retira o carácter
negativo de reduzidas qualificações humanas que lhes é próprio. E nada melhor
do que ler a peça de Max Frisch para o confirmar. Em resumo, um “Biedermann”
despede, de forma desumana, um empregado seu. Pouco depois, ele acolhe, em sua
casa, primeiro um vadio, e depois outros dois, se não me engano, porventura
como remissão do pecado. Rapidamente se arrepende do seu gesto, sem conseguir despachá-los.
Os vadios preparam, entretanto, no sótão da casa, tudo para incendiar a casa, o
que acontece no final da peça.
Ora, foi a lição que me veio à cabeça. Há por aí muitos
“Biedermänner” que estão a “acolher” uns incendiários, infelizmente não na sua
própria casa apenas, mas na nossa casa comum, a Europa.
Post de HMJ
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