domingo, 12 de maio de 2013

Osmose (43)


Haverá sempre uma área fechada e delimitada de incomunicabilidade humana. De diálogo impossível, mesmo para o próprio, consigo mesmo. Alargada em restrição, para o outro. E esta intransmissibilidade vem de longe.
Pode assumir a forma enigmática do verso "edoi lelia doura", do poema de Pedro Eanes de Solaz, que Herberto Helder quase fez sua. Passa, evidentemente, pela "Cold Song" de Purcell, como atravessa "O Grito" de Munch, ou "a gaguez furiosa" de que fala Jorge de Lima. E pode vir desembocar, mais perto de nós, nos "Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena", de Jorge de Sena. É tudo uma questão de temperamento.
De Leste, e desconexos, os sinais que chegavam só permitiam, ao homem, o pesadume do silêncio e uma tensão de gestos, quase mecânicos ou medidos, para evitar o patético e o excessivo. A desconformidade ininteligível, em suma. Elevou o braço esquerdo, rodeou com o anelar e o dedo mínimo a concha da orelha e começou, simplesmente, a coçar a nuca. Poderia, como o homem de meia idade, no "Eclipse" de Antonioni, ter tomado uma aspirina. Esse homem, aparentemente calmo, que, minutos atrás, tinha perdido tudo o que tinha, na Bolsa. Que, depois, se levantou da mesa do café e, em passos meditados, foi embora. Não podia fazer mais nada...

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