segunda-feira, 13 de maio de 2013

Recuperado de um "moleskine" (2)


Quatro gatos sonolentos e ociosos ocupam outros tantos telhados predilectos, numa ignorância egocêntrica, uns dos outros. Cuidam-se, no seu bem-estar instintivo.
Enquanto o "Alfred", de Thomas Arne, vai rodando e trotando, alegremente, ao fim da tarde, o som alacre dos metais fala-me da caça, cujo cenário, na minha infância, muito ao contrário, se rodeava de sigilo e silêncio, passos medidos e cautos, na manhã mal desperta afogada em neblina e orvalho. Mas agora andam-nos a caçar a felicidade, a alegria, o simples viver. E o Poder sempre ignorou, olimpicamente, os outros. E a sua modesta forma de catar, no mais leve indício e pela luz do dia, os mais pequenos sinais de esperança.
O rei Luís XIV, de França, dispunha de 171 cães de caça. E, a seu uso próprio, 26 cavalos de qualidade. Três para as cerimónias, cinco para puxar o seu coche e ainda mais 18 para a caça, propriamente dita - talvez fosse feliz. Os esbirros de hoje são os cães de ontem. Caçam-nos a pouca felicidade que ainda resta. E, ao pensar nisto, não consigo abrir uma janela tranquila para a noite...

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