Se em pequenos e restritos núcleos de reflexão já se fala na inexorabilidade, presente e futura, da diminuição progressiva de emprego e postos de trabalho, a nível mundial, por outro lado, há profissões que vão desaparecendo ou rareando no número dos seus artífices. Nuns casos, por falta de procura (por exemplo, limpa-chaminés), noutros, porque são raros os que se querem dedicar a essa profissão (canalizadores, funileiros, carpinteiros...), talvez por a acharem pouco dignificante, do ponto de vista social. Entretanto, ainda se pode ver, sobretudo nos subúrbios, e de vez em quando, um ou outro amolador ambulante que, antigamente, ainda consertava louça rachada, com gatos de metal, e arranjava guarda-chuvas, fazendo-se anunciar através do som da sua gaita de beiços. Pergunto-me se, hoje, ainda se manda consertar guarda-sóis que, nas lojas chinesas, se podem comprar a 5 euros... E, com certeza, já ninguém mandará pôr pingos de solda, em tachos ou panelas furados. Como conseguirá subsistir um homem, numa actividade de remuneração tão medíocre e duvidosa? Não consigo imaginar.
Dos que assam castanhas, no Inverno, sei que alguns, no Verão, se deslocam para as praias, para vender gelados. Mas também é uma pobre consolação.
Há, em tudo isto a que assistimos, um enorme desencontro. Vários becos sem saida.
o meu avô era Barbeiro e tinha uma dessas pedras para amolar as tesouras...perdeu-se (a pedra). Era criança quando o meu avô morreu mas, lembro-me bem da pedra que era amarela e estranhamente macia. Diz a minha mãe que ele ia todos os dias a casa de alguns senhores - lavradores ricos, para lhes tratar da cara e ganhava no final do ano um alqueire de milho. O mesmo se passava com a minha avó que era costureira e tinha uma daquelas máquinas a pedal, sem motor, linda, infelizmente também ela se perdeu.
ResponderEliminarEu com frequência universitária já trabalhei num centro de apoio e gestão de clientes empresariais (facturação...), e recebia 2,53€ por hora.
Dá que pensar?
Dá, Teresa! Porque o "sistema" está errado, de há muito, e individualmente pouco se pode fazer. Creio que o futuro já não se poderá fazer com jeito mas, e apenas, pela força. Muitos, já nada têm a perder. Estou céptico quanto a benesses vindas de cima...
ResponderEliminarDo que disse, fez-me lembrar as pedras de ume, nas barbearias, translúcidas - pareciam pequenos aicebergues imóveis. Mas a realidade, hoje, não tem nada de poético, infelizmente.
Na minha rua ainda passa um amolador, de vez em quando. Se tem clientela, não sei.
ResponderEliminarJá tenho mandado arranjar varetas do meu querido guarda-chuva numa loja. Há uns tempos que não o faço, mas para mim vale a pena porque os guarda-chuvas de €5,00 não sobrevivem a uma ventania.
Mas parece-me que nos tempos atuais a maioria das pessoas não vão mudar tão depressa de roupa e de sapatos. Aliás, já se nota pelo abaixamento das vendas.
ResponderEliminarÉ bem verdade que os guarda-chuvas chineses são bastante "descartáveis"...
ResponderEliminarE, se a crise - como parece - continuar, pode bem acontecer que os consertos dos objectos voltem a fazer-se, como antigamente.
A mim parece-me que com a crise, algumas destas profissões retornam ao nosso convívio. Aqui já se vêem, desde há uns tempos, lojinhas de concertos e arranjos de roupas. Sapateiros também temos alguns. Eu sempre mandei colocar solas e meias-solas em botas e sapatos. Detesto deitar coisas fora e sou muito fiel aos meus velhinhos pares de botas.
ResponderEliminarAté há pouco tempo era muito difícil encontrar um canalizador ou um electricista que viesse ao primeiro telefonema. Hoje, com a crise na construção civil, ficaram mais livres e são os próprios a oferecer os seus serviços...
Enfim, isto tudo para dizer que parece que as pessoas voltaram a procurar os serviços destes profissionais e recorre-se um pouco menos ao descartável.
Não sei se estou errada...
Boa noite!
É uma perspectiva possível, Isabel, essa que traça, da realidade que a rodeia. Muito embora eu pense que não irá criar mais emprego, apenas minimizar um pouco o flagelo do desemprego. Porque o futuro não será risonho, aqui, e no mundo, senão com uma mudança profunda do "sistema", das mentalidades e princípios éticos.
ResponderEliminarUma boa noite, também.
Escrevi mal "consertos"...(fico arreliada, sendo professora...!)
EliminarNão vai criar mais emprego, é apenas um recurso para algumas pessoas que ficaram sem emprego e precisam trabalhar.
Bom domingo!
Acontece, Isabel. A mim, muitas vezes, também, por distracção.
ResponderEliminarUm resto bom de domingo.