terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A dor e o relativo


Valorizamos mal, normalmente, um estado de equilíbrio. Pelo menos, sub-avaliámo-lo. Seja esse estado de origem psicológica, quer seja do nosso próprio corpo.
Houve um tempo em que, depois de uma intervenção cirúrgica, passei, durante cerca de duas horas, por uma dor profunda e, logo a seguir, por uma moínha dolorosa que me parecia ir-se prolongar eternamente. Teria sido um mês? Não o sei dizer, com rigor, mas foram vários dias.
Mas, subitamente, a meio de uma tarde e a meio da ponte sobre o Tejo, essa dor ou essa moínha pertinaz e dolorosa cessou completamente. Foi um momento concreto e total de felicidade.
Durou, no entanto, apenas o breve espaço da mudança, a que o corpo se habitua, e esquece. Dois ou três minutos, no máximo. Depois tudo voltou a ser normal e relativo.
Lembrei-me desse facto, hoje, ao ler uma frase de Cioran: "L'extase est une extremité atteinte." (O êxtase é um limite atingido.)

3 comentários:

  1. E quando a dor vai para lá do suportável, a mãe natureza, misericordiosa, desliga o cérebro. Aconteceu-me uma vez. O fenómeno deve ser em tudo semelhante a uma sobrecarga eléctrica. Porque nós somos (sobretudo? também?) energia...

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  2. Bem lembrado, caro c.a., esse estado do nosso organismo perante fenómenos extremos: o "estado de choque"- que nos acontece perante mutilações, amputações (não cirúrgicas), queimaduras graves e sofrimentos afins,traduzidos numa dor intensa que é insuportável. Infelizmente,também bem conhecido tal fenómeno pelos torcionários de todos os tempos...

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  3. É verdade, c.a.,porque já tive experiência de um apagamento, depois de um acidente de viação de alguma gravidade.

    Pois é, LB, o nosso "chip" trabalha maravilhosamente, quase sempre, e em piloto automático, também.

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