segunda-feira, 30 de março de 2015

Comerciantes e vendedores portugueses


Aqui há uma boa trintena de anos, tive oportuna necessidade de consultar e ler um estudo de mercado para uma empresa de grandes superfícies, com relatório anexo, minucioso e fundamentado, sobre as potencialidades da Linha de Sintra, para abertura de novas lojas. Havia prós e contras, na conclusão.
Há cerca de um ano, nas minhas imediações outrabandistas, reabriu pela quinta vez (quanto a donos), uma pequena superfície, agora franchisada (talvez porque abriu um Lidl, próximo), para minha surpresa. Mas, intimamente, desejei-lhes felicidades, até porque me era útil, e a dona e os três empregados eram discretos e simpáticos. Creio que nunca lá gastei mais do que 10/15 euros, para compras de ocasião e momentânea necessidade. O pequeno supermercado fechou há 8 dias... Subitamente, na sexta-feira passada, reabriu com nova gerência. Franchisada, também.
Em 2013, no coração de Lisboa, e numa loja que já fora de roupas, galeria e de decoração doméstica, inaugurou-se um bar. Vim a saber que pertencia a uma advogada lisbonense, pouco conhecida, mas que devia ter muitos amigos. Porque o local se tornou incomodativo, e HMJ, mais sensível do que eu ao ruído nocturno, se perturbava grandemente, eu sosseguei-a, premonitoriamente: "Tem paciência, que só vai durar um ano!" Durou 2.
Por tudo isto, achei interessante que Clara Ferreira Alves, numa das suas últimas crónicas, pessimista, no Expresso, tenha escrito (em tempo: o meu amigo H. N. sublinhou metade do vou transcrever), com inteiríssima razão:
"...Há lojas fechadas, com papéis a tapar os vidros da montras. O melhor hambúrguer do mundo e tretas assim. Uma boa parte destes empreendedorismos espeta-se, fecha. Muita gente não tem formação para montar um negócio."
Fora as tias, que têm quem as espalde, é uma tristeza. Mas também a falta de sentido crítico e da realidade, de uma boa parte dos portugueses. E não é só em relação à literatura...

6 comentários:

  1. Nas comidas há modas: agora são os hambúrgueres; em tempos foram as croissanterias. Quantas restam hoje?
    Quanto aos hambúrgueres, ainda bem porque até há aí umas casas (poucas) com uns hambúrgueres decentes. Dantes só se podiam comer em casa. Ou na Cervejaria Alemã. :)

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    1. Isto é como os aviários, nos anos 50, em Portugal: estava dar, "vamos investir!". Até pequenos quintais vimaranenses tinham aviários...
      Claro, foi um desastre, passados uns meses. É o que eu chamo a tal carneirada à portuguesa.

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  2. O comércio tradicional faz muito falta, sobretudo para os idosos sem carro ou com problemas de locomoção ( o caso da minha mãe, por exemplo). Nem todos se orientam nos metros e nos grandes centros comerciais. No caso da minha mãe, por exemplo, compro-lhe roupa e calçado aqui e envio. Fazer o quê? Só tem um supermercado e um talho lá ao pé, nada de sapatarias ou lojas de roupa...Nem quero pensar que o supermercado lá ao pé possa fechar, sobretudo para compras diárias, que as grandes, encomendo on-line numa grande superfície e vão lá entregar...

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    1. Pois, há problemas novos que se criaram, com as recentes condições: maior longevidade, desaparição quase total das mercearias de bairro, varridas pelas grandes superfícies e centros comerciais...
      Será necessário pensar, também, novas estratégias. Infelizmente, os políticos raramente pensam nestas situações, por vezes, aflitivas.

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  3. Acho que estão a voltar algumas mercearias, aproveitando-se do facto de as frutas e os legumes dos super serem de fraca qualidade.

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    1. É verdade, e ainda bem! E, merecidamente, estão a sobreviver melhor. A fruta, nas grandes superfícies, é muitas vezes arrematada ainda em pomar...

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