segunda-feira, 30 de março de 2015

A prima de Alberto Manguel


As duas mais frequentes posições para leitura são: sentada e deitada, como se imagina. Embora, raramente, eu leia de pé, pequenos textos, prefiro a posição reclinada ou deitada. Mas não na situação, algo incómoda, da fotografia de André Kertész (1894-1985), onde uma anciã, do Hospício de Beaune, lê, concentrada, amparada por grandes almofadas.
Quanto a ler em viagem, já fui mais ambicioso do que hoje. Tentei, durante muito tempo, ler livros de ficção (a poesia, guardo-me para a ler em casa), sem grande sucesso. Ainda cheguei aos policiais, mas a falta da devida concentração continuava a ser a mesma, e acabei por desistir. Restaram os jornais e revistas, que ainda costumo levar, para viagens.
Alberto Manguel (1948) na sua Uma História da Leitura (Presença, 1998) fala-nos duma sua prima e das suas opções de leitura, em viagem. Assim:
"Uma prima minha de Buenos Aires, como tinha consciência clara de que os livros podiam funcionar como emblema, um sinal de aliança, escolhia sempre o livro que levava em viagem com o mesmo cuidado com que escolhia a mala de mão. Não viajava com Romain Rolland, porque achava que lhe daria um ar excessivamente pretensioso, nem com Agatha Christie, porque a faria parecer demasiado vulgar. Camus era próprio para uma viagem curta, Cronin para uma mais longa; uma história policial por Vera Caspary ou Ellery Queen era aceitável para um fim-de-semana no campo; um romance de Graham Greene era adequado para viagens de barco ou de avião."

10 comentários:

  1. Não consigo ler se estiver a andar de barco ou de comboio - perco-me a ver as paisagens. De autocarro ou eléctrico, não dá por causa da confusão. No avião, já consigo, mas tem de ser algo intrigante. Em casa, sim, já gosto de ler. Estendida na relva ou na praia, também pode ser. Gosto de estar sossegada enquanto leio.
    Bom dia!

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    1. A minha atitude não anda longe da sua..:-)
      Mas admiro-me (ou talvez não...), algumas vezes, de ver seres humanos a ler "tijolos" nos transportes públicos. Que lhes faça bem à saúde!
      Uma boa tarde, para si!

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    2. "Tijolos" só mesmo em casa! :-)) Minha rica coluna...:-))

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  2. Só leio em viagens de avião ou de comboio e normalmente escolho literatura policial. E guias.
    Das escolhas da prima de Manguel, só não viajaria com Romain Rolland porque gosto de o reler em doses homeopáticas: de vez em quando um bocadinho.
    Não conheço Vera Caspary.
    Leio muito no Metro - tenho uma grande capacidade de me abstrair do barulho -, mas não considero isso ler em viagem.
    Bom dia!

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    1. Mesmo sozinho, e em viagens de avião, não consigo abstrair o suficiente para ler livros - a insuficiência é minha, sem dúvida. Porque, em casa, mesmo com ruído, sou capaz de me concentrar e ler obras com peso.
      Boa tarde!

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  3. Há pessoas que pensam em tudo, são mesmo "thoughtful"! Nunca me lembraria de escolher o livro de acordo com o tipo de viagem... Só não levo "tijolos", por razões óbvias. De resto, levo simplesmente o que ando a ler ou o que está na fila de espera e até leio em viagens de carro... se não for a conduzir :))
    Um bom resto de dia!

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  4. É verdade..:-)
    Quanto às minhas experiências de leitura, em viagem, tive de concluir que só coisas "leves"...
    Um bom resto de tarde soalheira!

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