É necessário fazer ver que a linguagem contém recursos emotivos misturados com as suas propriedades práticas e directamente significativas. O dever, o trabalho, a função do poeta é pôr em evidência e em acção estas capacidades de movimento e de encantamento, estes excitantes da vida afectiva e da sensibilidade intelectual, que são confundidos na linguagem de todos os dias com os signos e os meios de comunicação da vida quotidiana e superficial. O poeta consagra-se e consome-se, por isso, a definir e a construir uma linguagem na linguagem; o seu trabalho, que é longo, difícil, delicado, que exige qualidades muito diversas do espírito e que jamais está terminado, como também nunca será totalmente possível, tende a constituir o discurso de um ser mais puro, mais poderoso e mais profundo nos seus pensamentos, mais intenso na sua vida, mais elegante e mais feliz na sua palavra do que em qualquer outra pessoa real.
Paul Valéry, in Variété II (pg. 170).
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