A ordem pesa sempre no indivíduo. A desordem fá-lo desejar a polícia ou a morte. São duas circunstâncias extremas onde a natureza humana não está à vontade. O indivíduo procura uma época que seja agradável, onde se sinta mais livre e mais apoiado. E ele encontra-a a partir do começo do fim de um sistema social.
E, então, entre a ordem e a desordem, reina um momento delicioso. Todo o bem possível que procura conciliar os poderes e os deveres adquiridos é nessa altura que se pode fruir através desse abrandamento do sistema. As instituições ainda se aguentam. São grandes e poderosas. Mas sem que nada ainda se tenha alterado, elas já não apresentam a sua inteira presença; as suas virtudes já não se desenvolvem mais; o seu futuro está misteriosamente esgotado; o seu caracter não mais é sagrado; a crítica e o desprezo vão-nas minando e esvaziando de todo o seu conteudo futuro. O corpo social perde docemente o seu amanhã. É a hora do prazer e da delapidação generalizada.
Paul Valéry, in Variété II (pgs. 60/1).
Fico sempre para aqui a pensar...
ResponderEliminarBom domingo:)
É também o que normalmente me acontece, Isabel, até porque Valéry é muito estimulante.
EliminarUma boa noite de domingo!
Vi ontem, na biografia que estou a ler de Salazar, que Paul Valéry fez o prefácio à edição francesa do livro de António Ferro Salazar: le Portugal et son chef. :(
ResponderEliminarÉ verdade, eu sabia. Mas o tom é, relativamente, neutro e não encomiástico. O Ferro mexia-se bem, devia conhecer Valéry, e fez-lhe a encomenda que, decerto, pagou bem...
Eliminar"No melhor pano cai a nódoa."
Ele recebeu o equivalente a 2500$00.
ResponderEliminarNa altura, era bom dinheiro!
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