Estes poetas portugueses do século XVIII (e o XVII ainda é pior...), temos que os depenicar e ler com cuidado, deitar fora os bagos podres, triá-los com frieza, senão é uma grande sensaboria a leitura. Mas há uma boa meia dúzia deles que vale a pena conhecer, embora não integrem, muitas vezes, o cânone oficial, até porque, para tudo, é preciso ter sorte e cair em graça, para ser lembrado. Este vate, Joaquim Fortunato de Valadares Gamboa, bem merecia uma referência nos compêndios de literatura, ainda que fosse breve. Mas nem Inocêncio lhe concede muito espaço, no seu Dicionário, e muito menos dá informação sobre as datas de nascimento e morte, embora avance que Valadares Gamboa talvez tenha falecido logo no início do século XIX.
Por umas Endexas (pg. 80), que constam do II Tomo (Rollandiana, 1804), das suas Obras Poéticas, vê-se que o Poeta estava muito a par da Agricultura (e o Gamboa do apelido até permite fantasiar...), conhecia bem as diversas especialidades de cada fruto, bem como as castas das uvas portuguesas:
Tenho vinha velha,
Mas bem casteada;
De uvas primorosas
Será regalada.
Bastardo excelente,
Temporão leirem,
Branca trincadeira
E preta também.
Doce moscatel,
Bom déba, e boal;
Tenho malvasia
Que não tem igual.
Mas esta simplicidade, que está próxima da quadra popular, não lhe ocupa a totalidade da obra. Porque nela há poemas bem sucedidos e versos de alguma qualidade, semeados pelos dois livros publicados.
Tudo isto para concluir que, nos anos 80 do século passado, tive imensa dificuldade em conseguir comprar os dois tomos da obra poética de Valadares Gamboa, ambos impressos na Tipografia Rollandiana. E se o segundo tomo (1804) que possuo é da primeira edição, já o o Tomo I é da segunda impressão (1791). Não tenho qualquer apontamento sobre o preço que dei pelos livros, que estão em bom estado, mas posso afirmar com segurança que as Obras Poéticas, deste vate neo-clássico, não aparecem com frequência à venda. E, creio, que também nunca foram reeditadas.
Actualização devida: por lapso, não me lembrei do trabalho meritório de Pedro da Silveira sobre o Poeta. Onde propõe 1745 e 1815, como datas de nascimento e morte, de Valadares Gamboa. Refiro estes elementos num anterior poste de 10/10/2010.
Actualização devida: por lapso, não me lembrei do trabalho meritório de Pedro da Silveira sobre o Poeta. Onde propõe 1745 e 1815, como datas de nascimento e morte, de Valadares Gamboa. Refiro estes elementos num anterior poste de 10/10/2010.
E esta mistura que vinha daria?
ResponderEliminarPelo menos, daria um poema alegre...
EliminarDe vinho assim lotado, fico na dúvida, até porque há duas castas de uvas que eu não conhecia.
vinha = vinho
ResponderEliminarEstas gralhas estão a tornar-se recorrentes. :-)