A religião católica proibiu a representação de corpos eróticos. Ora, em seu lugar, desenvolveu-se todo um campo imagético religioso marcado pelo erotismo do corpo maculado, do corpo martirizado. O martirológio cristão traduz-se em arte por um erotismo da morte, como por exemplo na imagem de S. Lourenço a ser queimado sobre uma grelha e, mais ainda, por S. Sebastião trespassado pelas flechas de soldados romanos. (...) Noutro registo, o martírio de Santa Ágata é uma verdadeira inspiração. Há todo um erotismo cristão de prazer no sofrimento, que irá culminar na obra do marquês de Sade - e até mesmo em Bataille.
Michel Onfray (1955), em entrevista a Le Nouvel Observateur (Hors-serie 85).
Nota: em imagem, pormenor da obra de Bernini, "O êxtase de Santa Teresa".
Um tema talvez polémico, mas que daria "pano para mangas"...
ResponderEliminarIndependentemente da associação/ligação do tema (erotismo, religião, pintura) a Sade e Bataille, que me parece forçada, concordo com a tese de Onfray. A "Crucificação" de Mathias Grünewald (objecto de um poste antigo do Arpose) é um bom exemplo, extremo.
ResponderEliminarÉ um assunto de que percebo pouco. Mas não entendo isso de «erotismo da morte».
ResponderEliminarBernini devia conhecer a poesia de Santa Teresa de Ávila e por isso fez esta magnífica escultura.
Melhor dizendo: é um assunto de que não percebo nada.
ResponderEliminarEntre o misticismo religioso que talvez possa explicar a origem do "Apocalipse" de S. João, mas não iluminar a compreensão do texto; entre a poesia de S. João da Cruz e a de Sta. Teresa de Ávila (ou em menor escala de qualidade, alguns poemas de Régio) e o Eros e Thanatos freudianos, muito há de indizível, muita sombra humana difícil de entender, tal como no "Porteiro da Noite" (?) de Losey.
ResponderEliminarDa escultura de Bernini, a imagem não abarca o Anjo a trespassar o coração de Sta. Teresa, mas o grupo escultórico não deixa de ser uma obra-prima.
Um bom fim de tarde, MR!
Errata:
Eliminaro filme "O Porteiro da Noite" não foi realizado por J. Losey, mas sim por Liliana Cavani (1974), com a participação dos actores Dirk Bogarde e Charlotte Rampling.