sábado, 22 de fevereiro de 2014

Um poema de Nemésio, avô


O Futuro Perfeito

                      À minha neta Anica


A neta explora-me os dentes,
Penteia-me como quem carda.
Terra da sua experiência,
Meu rosto diverte-a, parda
Imagem dada à inocência.

Finjo que lhe como os dedos,
Fura-me os olhos cansados,
Íntima aos meus próprios medos
Deixa-mos sossegados.

E tira, tira puxando
Coisas de mim, divertida.
Assim me vai transformando
Em tempo da sua vida.

Vitorino Nemésio (1901-1978), in O Verbo e a Morte (1959).

Nota: em parceria com a Isabel, que também publicou um poema de Nemésio, no seu Blogue.

4 comentários:

  1. É bonito! Por acaso já o li algures, se calhar em alguma antologia poética... mas não relacionava com o autor.

    Continuação de bom domingo!

    ResponderEliminar
  2. Tem todo um afecto avoengo..:-)
    Votos de boa semana, também!

    ResponderEliminar