À minha neta Anica
A neta explora-me os dentes,
Penteia-me como quem carda.
Terra da sua experiência,
Meu rosto diverte-a, parda
Imagem dada à inocência.
Finjo que lhe como os dedos,
Fura-me os olhos cansados,
Íntima aos meus próprios medos
Deixa-mos sossegados.
E tira, tira puxando
Coisas de mim, divertida.
Assim me vai transformando
Em tempo da sua vida.
Vitorino Nemésio (1901-1978), in O Verbo e a Morte (1959).
Nota: em parceria com a Isabel, que também publicou um poema de Nemésio, no seu Blogue.
É bonito! Por acaso já o li algures, se calhar em alguma antologia poética... mas não relacionava com o autor.
ResponderEliminarContinuação de bom domingo!
Obrigado, Isabel, e igualmente!
ResponderEliminarMuito bonito, mesmo. Boa semana!
ResponderEliminarTem todo um afecto avoengo..:-)
ResponderEliminarVotos de boa semana, também!