sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Camões e o fogo de Santelmo


Já hoje podem ler, os núbeis estudantes do Secundário, o Canto IX que, de "Os Lusíadas", no meu tempo era vedado às criancinhas, pelos desabusados costumes que lá vinham...
Não tenho a certeza de que esse nono Canto, do nosso poema maior, seja o mais importante, mas é esse mesmo que hoje é destacado, num rasgo parolo e exuberante de alforria liberal deste Governo, no programa oficial, para ser lido, mesmo que aos bocados, como tem sido apanágio da índole fragmentária e palerma do Ensino, nestes últimos tempos.
Porque há - e não presumo nem aconselho, é certo, uma leitura cabal nem intensiva da Epopeia - alguns trechos bem interessantes e apelativos, mesmo para a juventude, em "Os Lusíadas", de Luís de Camões. Lembraria, por exemplo, a descrição genial do fogo de Santelmo e de um tornado marítimo, em simultâneo, feita pelo nosso Épico, no Canto V (estrofes 18 e 19).
Convém dizer, para quem não saiba, que fogo de Santelmo (ou de Santo Elmo), em palavras simples, era uma espécie de fogo circunscrito que, na Antiguidade, parecia incendiar a ponta (metálica) dos mastros dos navios, e que, normalmente, se sucedia a uma forte tempestade marítima, sendo provocado por descargas eléctricas, dos raios. Hoje, também se pode observar e  pode acontecer, por vezes, na fuselagem dos aviões, em circunstâncias semelhantes.
Mas demos a palavra ao Poeta:

Vi claramente visto o lume vivo
Que a marítima gente tem por santo,
Em tempo de tormenta e vento esquivo
De tempestade escura e triste pranto:
Não menos foi a todos excessivo
Milagre, e cousa certa de alto espanto,
Ver as nuvens do mar com largo cano
Sorver as altas águas do Oceano.

Eu o vi certamente e não presumo
Que a vista me enganava, levantar-se
No ar um vaporzinho e subtil fumo
E do vento trazido, rodear-se
De aqui levado ao Polo sumo
Se via, tão delgado que enxergar-se
Dos olhos facilmente não podia,
Da matéria das nuvens parecia.

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