sábado, 1 de fevereiro de 2014

Da Janela do Aposento 43: Retrospectiva



Paul Klee, "Ghost of a Genius"

Um artigo de JPP, uma voz esclarecida, no deserto partidário, contra o actual regime, permitiu recuar no tempo e recordar alguns fenómenos na época em que alguns dos “rapazes das jotas” circulavam pelas escolas públicas.
Era o tempo da plenitude do “Cavaquistão”, em que no ensino secundário se podia optar por várias vias, claro está, de acesso ao ensino superior. A motivação centrava-se numa promoção rápida, através do ingresso no grau seguinte, e poucos se identificavam com universos mentais e culturais mais amplos. Basta, aliás, olhar para os lados de Belém para compreender o início deste desastre.
Ora, naquele tempo havia as seguintes opções, ditas de forma abreviada, Ciências, Economia, Humanidades e Artes. Os alunos de Ciências queriam ser médicos, os de Economia, gestores e quiçá políticos, os das Humanidades, advogados e Juízes para fugirem a outros magistérios menos considerados. Os das Artes esforçavam-se para entrar em Arquitectura. Nesta visão de síntese, pouco favorável sobre um universo largo de alunos ao longo de décadas, criados e radicados nos subúrbios de Lisboa, quase não tiveram expressão os poucos, mas excelentes alunos do ponto de vista humano, mental e cívico.
Contudo, os menos dotados “de cabeça”, mais amorfos relativamente a qualquer interesse cultural, eram os alunos de Economia. Fugiam das Ciências, “puras e duras”, iniciando-se nas suas lições de Economia, porque eles eram, numa parte substancial, filhos de “empresários”, ou seja, merceeiros recentemente promovidos a um estatuto social superior e ascendente, donos de lojas com nomes sonantes como “Jacques”, “Kaku’s” e quejandos.
Há quem me contrarie nessa visão pessimista sobre os alunos de Economia, afirmando o contrário sobre os discentes num dos liceus de referência de Lisboa. Aceito o contraditório pela diferença do meio. Os alunos de Lisboa saíram, porventura, para “gestores de topo”, ou, como os Vitinhos, aproveitaram o trampolim da política para outros voos. Os outros, de subúrbios tipo Massamá, levaram mais tempo e, como os Rosalinos, que bem conhecemos, vingaram-se, a valer, da sua condição inferior quando a escada do actual regime lhes ofereceu o poder.
Fica a mágoa de não ter conseguido o essencial, i.e., contribuir para que o ensino se transformasse numa "escola de pensar".

Post de HMJ

3 comentários:

  1. A visão negativa, super negativa, não ajuda nem a saúde nem o bem estar emocional. Há sempre dois lados das questões, podemos olhar para os mais belos a bem da nossa saúde mental.

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    1. Caro Sameo Torresão,
      por vezes, até demasiadas vezes, o belo é arrastado pela "enorme carga de vulgaridade... numa democracia de consumismo de massa." Citação tirada do último livro de George Steiner, "Linguagem e Silêncio."

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  2. Há tanta vulgaridade numa túlipa como num malmequer.A singularidade de cada pessoa é tão importante como a diversidade na floresta. O consumo devia ser só para uma elite? e a educação também?Sabemos onde isso nos levou. Se a expressão "Linguagem e Silêncio" tivesse sido usada por Rudolf Steiner eu até achava que o sentido do silêncio podia conter a ideia de inteligência espiritual que nada tem a ver com religiosidade. Acredito que o silêncio referido pelo autor não seja o mais terapêutico, mas um silêncio pesado, crítico da actual geração. Há silêncios que nos conduzem à felicidade, outros que a retiram.

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