Paul Klee, "Ghost of a Genius"
Um artigo de JPP, uma voz esclarecida, no deserto
partidário, contra o actual regime, permitiu recuar no tempo e recordar alguns
fenómenos na época em que alguns dos “rapazes das jotas” circulavam pelas
escolas públicas.
Era o tempo da plenitude do “Cavaquistão”, em que no ensino
secundário se podia optar por várias vias, claro está, de acesso ao ensino
superior. A motivação centrava-se numa promoção rápida, através do ingresso no
grau seguinte, e poucos se identificavam com universos mentais e culturais mais
amplos. Basta, aliás, olhar para os lados de Belém para compreender o início
deste desastre.
Ora, naquele tempo havia as seguintes opções, ditas de forma
abreviada, Ciências, Economia, Humanidades e Artes. Os alunos de Ciências
queriam ser médicos, os de Economia, gestores e quiçá políticos, os das
Humanidades, advogados e Juízes para fugirem a outros magistérios menos
considerados. Os das Artes esforçavam-se para entrar em Arquitectura. Nesta
visão de síntese, pouco favorável sobre um universo largo de alunos ao longo de
décadas, criados e radicados nos subúrbios de Lisboa, quase não tiveram
expressão os poucos, mas excelentes alunos do ponto de vista humano, mental e
cívico.
Contudo, os menos dotados “de cabeça”, mais amorfos
relativamente a qualquer interesse cultural, eram os alunos de Economia. Fugiam
das Ciências, “puras e duras”, iniciando-se nas suas lições de Economia, porque
eles eram, numa parte substancial, filhos de “empresários”, ou seja, merceeiros
recentemente promovidos a um estatuto social superior e ascendente, donos de
lojas com nomes sonantes como “Jacques”, “Kaku’s” e quejandos.
Há quem me contrarie nessa visão pessimista sobre os alunos
de Economia, afirmando o contrário sobre os discentes num dos liceus de
referência de Lisboa. Aceito o contraditório pela diferença do meio. Os alunos
de Lisboa saíram, porventura, para “gestores de topo”, ou, como os Vitinhos,
aproveitaram o trampolim da política para outros voos. Os outros, de subúrbios
tipo Massamá, levaram mais tempo e, como os Rosalinos, que bem conhecemos,
vingaram-se, a valer, da sua condição inferior quando a escada do actual regime
lhes ofereceu o poder.
Fica a mágoa de não ter conseguido o essencial, i.e., contribuir para que o ensino se transformasse numa "escola de pensar".
Post de HMJ
A visão negativa, super negativa, não ajuda nem a saúde nem o bem estar emocional. Há sempre dois lados das questões, podemos olhar para os mais belos a bem da nossa saúde mental.
ResponderEliminarCaro Sameo Torresão,
Eliminarpor vezes, até demasiadas vezes, o belo é arrastado pela "enorme carga de vulgaridade... numa democracia de consumismo de massa." Citação tirada do último livro de George Steiner, "Linguagem e Silêncio."
Há tanta vulgaridade numa túlipa como num malmequer.A singularidade de cada pessoa é tão importante como a diversidade na floresta. O consumo devia ser só para uma elite? e a educação também?Sabemos onde isso nos levou. Se a expressão "Linguagem e Silêncio" tivesse sido usada por Rudolf Steiner eu até achava que o sentido do silêncio podia conter a ideia de inteligência espiritual que nada tem a ver com religiosidade. Acredito que o silêncio referido pelo autor não seja o mais terapêutico, mas um silêncio pesado, crítico da actual geração. Há silêncios que nos conduzem à felicidade, outros que a retiram.
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