sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Divagações 37


Olho, às vezes, para os ícones nacionais, e fico melancólico.
Já não tenho idade para combater contra os moinhos, como D. Quixote, nem sequer para recomendar prudência (inutilmente, aliás) aos mais novos, quando defendem os rodrigues dos santos e as rebelas pinto, adolescentemente e à outrance, com um calor desmiolado, embora sincero, mas acrítico. Dentro de 30/40 anos já ninguém falará deles, nem, provavelmente, da Frida ou da Clarice que, apesar de tudo, tinham mais talento e eram inteligentes. Pelo menos, capazes de construir um mito e um mistério que ainda fascina muitas pobres almas desejosas de avatares divinos, ou que precisam de alguns deuses, nos seus oratórios domésticos. O problema é que não havia mistério nenhum para adorar (ó verbo tão vilipendiado!) nessas vidas, apenas esperteza suficiente para poderem viver melhor, à custa dos seus fiéis acólitos. No fundo, venderam a alma ao diabo, como a Vanessa Mae, o Paulo Coelho, o Andre Rieu ou o Filipe la Feria, para poderem viver esta vida em condições paradisíacas e melhores que o comum dos mortais. E, francamente, só abastardaram as suas qualidades, para alcançar o conforto e o luxo, nesta única vida que nos coube.
Feliz ou infelizmente, já cheguei à idade em que é preciso varrer o lixo...

4 comentários:

  1. Ponho-me aqui a "olhar" estes nomes todos que refere ;da Rebelo Pinto não gosto. Do Rodrigues dos Santos li um único livro e gostei bastante. Do Paulo Coelho li uns quantos há uns bons anos atás(acho que foi quando apareceu mais, aqui em Portugal)e hoje admiro-me como é que li tantos na altura. Influência de uma amiga que gostava muito. Da Frida Kahlo e da Clarisse Lispector gosto. Não conheço muito da Clarisse, mas gosto.
    A pintura da Frida Kahlo intriga-me, às vezes há coisa quases feias, que me prendem o olhar e me impressionam. Não sei explicar, mas gosto.
    Até fico com pena que as considere tão pouco...

    Mas também concordo consigo, que a maior parte destes "escritores" que vão estando na moda - por influência duma boa publicidade - daqui por poucos anos ninguém se lembrará deles.

    Bom fim-de-semana

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  2. Gostar é uma liberdade que respeito nos outros, mesmo que não coincida com a minha, Isabel. Mas, no meu caso e até pela idade, penso que devo utilizar bem o tempo que me resta. Daí o "varrer o lixo".
    A qualidade literária de Clarice Lispector (que, inteligentemente, urdiu uma teia de mistério e sedução à sua volta) não se compara à "pobreza" de Paulo Coelho. É a diferença que separa arte, do entretenimento. Mas Graciliano Ramos e Guimarães Rosa são outra coisa, muito superior aos outros dois. Só que ler G.Rosa não é fácil, muito embora compense e nos enriqueça a vários níveis.
    O feio em pintura (Frida Kahlo) não é, à partida, negativo. Há Bosch, há Soutine, há Francis Bacon que também pintaram "feio", mas são grandes pintores. No essencial, importa-me a autenticidade e honestidade do Artista. Depois, importa também a originalidade, o estilo e a técnica profissional. Mas há fundamentalmente, e no final, o gostar ou não gostar.
    Considero Herberto Helder um grande poeta, mas não gosto da poesia que faz... Por aí, não há volta a dar.
    Era uma conversa que levaria longe.
    Por aqui me fico, Isabel, desejando-lhe também um bom fim-de-semana, a seu gosto.

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  3. Tenho a certeza de uma coisa: tenho muito que aprender.
    E também concordo que com tantos livros bons para ler, há que aproveitar bem o tempo e seleccionar o que vale a pena. Hoje em dia é o que procuro fazer.
    Obrigada por responder.

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  4. Tive imenso gosto em dialogar consigo. Sinceramente.

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